sábado, 29 de setembro de 2018

A razão setecentista

Conforme Antonio Candido [Formação da Literatura Brasileira: momentos decisivos]: 

"A razão setecentista, contemporânea do empirismo e da física de newton, é a mesma que transparece na ordenação do mundo  natural, mostrada por Linneu ou Buffon. O mundo, que impressiona a folha branca do espírito, deixa nela um traçado coerente; é pois um mundo ordenado, pelo fato mesmo de lhe ser coextensiva. A ordem intelectual prolonga a ordem natural, cujo mistério Newton interpreta para os contemporâneos. A atividade do espírito obedece, portanto, a uma lei geral, que é a própria razão do universo, e não se destaca da natureza, como implicava o dualismo racionalista de Descartes. Uma nova razão, pois, unida à natureza por vínculo muito mais poderoso, inelutável  na sua força unificadora."

Considerando essa racionalidade que orienta e redireciona a percepção de mundo, comente sobre o período do Arcadismo e a poesia pastoral no Brasil. Para tanto, considere o seguinte trecho da Formação da Literatura Brasileira:

"É elucidativa a este propósito a voga do famoso preceito horaciano de que para comover é preciso estar comovido; preceito sempre referido que assume então renovada importância e é tratado menos como indicação de um recurso técnico, do que como verdadeiro apelo à sinceridade. Na Epístola a Termindo Sipilio, de Silva Avarenga, por exemplo, ela é transposta num contexto que lhe dá aspecto de acentuada valorização da emoção pessoal, rompendo o molde da convenção e abrindo caminho à tumultuosa revelação dos estados peculiares à alma de cada um."

Exemplifique seu comentário com pelo menos um exemplo literário, procurando analisar brevemente a produção estética do período, apontando aspectos que culminam no nativismo.

terça-feira, 4 de setembro de 2018

A abordagem da identidade nacional

As reflexões apresentadas por Sandra Jatahy Pesavento são muito importantes para pensarmos a construção da identidade nacional em relação aos demais países da América Hispânica, bem como a visão sobre a nossa cultura como vinculada à América Latina.
Com base em fragmentos do ensaio da historiadora, elabore um comentário sobre o imaginário que se forma com base nesse distanciamento, confrontando com a obra O Uraguai, de Basílio da Gama. Essa obra é importante especialmente pelo fato de abordar a história da região que mais se aproxima do que seria uma visão comum, mesmo inserida em um contexto de enfrentamento, visto que narra as lutas dos índios dos Sete Povos das Missões com os exércitos portugueses e espanhóis e que, supostamente, nos coloca em uma situação de pertencimento ao Novo Mundo.
Procure utilizar fragmentos da obra literária para selecionar algum elemento que sustente sua leitura a partir desse imaginário de pertencimento a uma nação e/ou identidade cultural. Por que será que não nos vemos claramente dentro de uma história latino-americana? E porque também temos uma dificuldade em  nos percebermos claramente como mestiços, sendo essa denominação sempre [ou quase sempre] tida como negativa ou menos prestigiada no nosso meio?

"Em suma, nossa ideia é de que os brasileiros têm vivido de costas para a América Latina, e a construção imaginária de um 'pertencimento' ou de uma identidade nacional não passa pelo endosso de uma aceitação de latino-americanidade. Mais do que isso, na correspondência entre 'nós' e os 'outros', a América Latina chega a se configurar como o 'outro' não-explícito, não-verbalizado e muito pouco pensado. Radicalizando, ousaríamos afirmar até que os brasileiros 'não gostam' de ser identificados como latino-americanos." (p. 18)

"A indagação de Bolívar e Sarmiento para a Hispano-América - o que somos? - tinha como referencial a mestiçagem, vista como virtualidade de libertação. No Brasil de herança lusa, o coletivo não engloba os dominados nem pressupõe interação social. Aponta-se para o Brasil que se quer, e não para o Brasil que se tem, princípio que se tornaria ainda mais claro na geração seguinte, imbuída de preocupações realistas e cientificistas.
A chamada 'geração de 70' expressou, no final do século XIX, um novo pensar em termos nacionais.
Imbuída das teorias de Darwin, Spencer, Comte, Taine, Renan, esta geração buscava o universal de forma explícita, assumindo um cosmopolitismo declarado: o Brasil deveria acertar o passo com a história, ingressando na modernidade de seu tempo. A Europa fornecia o padrão de refinamento civilizatório e de patamar cultural. Dela vinham as ideias, a moda, as novas técnicas, e o Brasil precisava acompanhar o trem da história, nem que fosse no último vagão... A alteridade estava posta de forma inquestionável: ela estava do outro lado do oceano, onde o Brasil buscava os seus padrões de referência e colocava o seu horizonte." (p. 26-27).

PESAVENTO, Sandra Jatahy. Contribuição da história e da literatura para a construção do cidadão: a abordagem da identidade nacional. In: LEENHARDT, Jacques; PESAVENTO, Sandra Jatahy. Discurso histórico e narrativa literária. Campinas: Unicamp, 1998.