terça-feira, 17 de abril de 2012


O Barroco brasileiro

Leia as citações de Massaud Moisés sobre o Pe. Antônio Vieira e de Antônio Dimas sobre Gregório de Matos e estabeleça uma conexão sobre o Barroco no Brasil a partir de seus mais importantes expoentes. Após essa relação inicial, procure apresentar outro autor que possa se inserir nessa discussão, seja em prosa ou poesia, contextualizando os principais elementos do período. Faça a leitura de algumas das obras dos autores citados a fim de apresentar com clareza a relação possível do autor escolhido.



“O estilo há de ser muito fácil e muito natural.” Como se vê, o pregador postula exatamente o que pratica no sermão, e vice-versa. E sendo antigongórico, ou seja, conceptista, vitupera o estilo alambicado comum à eloquência do tempo: “Este desventurado estilo que hoje se usa, os que o quere imitar chamam-lhe culto, os que o condenam chamam-lhe escuro, mas ainda lhe fazem muita honra. O estilo culto não é escuro, é negro, e negro boçal e muito cerrado”. Sua investida destinava-se precipuamente ao dominicano Frei Domingos de S. Tomás, um dos vários pregadores gregorizantes da época. Quanto ao assunto: “O sermão há de ter um só assunto e uma só matéria”, “há de ser duma só cor, há de ter um só objetivo, um só assunto, uma só matéria”. Quanto aos argumentos: “As razões não hão de ser enxertadas, hão de ser nascidas. O pregar não é recitar. As razões próprias nascem do entendimento, as alheias vão pegadas à memória, e os homens não se convencem pela memória, senão pelo entendimento”. (Massaud Moisés)



Ao contrário de Vieira, Gregório não se envolveu em questões magnas, afetas à condução da política em curso. Não lhe interessavam os índios, mas as mulatas. Não o aborreceram os holandeses, mas os portugueses. Não cultivou a política, mas a boêmia. Não “fixou a sintaxe vernácula” como quer Eugênio Gomes, mas engordou o léxico. Não transitou por cortes europeias, mas vagabundeou pelo Recôncavo. Se refratário ao Sistema ou por ele marginalizado, não importa. Importa é que essa incapacidade de adequação social fez de Gregório de Matos uma espécie de poeta maldito, sempre ágil na provocação, mas nem por isso indiferente à paixão humana ou religiosa, à natureza, à reflexão e, dado importante, às virtualidades poéticas de uma língua europeia recém-transplantada para os trópicos. Com Gregório, a linguagem barroca do português se expande e se enriquece, incorporando um “vocabulário rico, variado, cheio de termos tropicais”. (Antônio Dimas)

terça-feira, 3 de abril de 2012


SOBRE IMAGINÁRIOS E IMAGINADOS:
OS PRIMEIROS TEXTOS EM LÍNGUA PORTUGUESA NO BRASIL
 

Quando pensamos nos textos produzidos sob o influxo da “descoberta” do Novo Mundo, imaginamos, também, a carga simbólica que eles carregam consigo. Podemos perceber as imagens culturais, os elementos que permeiam todas as impressões que, por mais isentas que tentem ser, inegavelmente se inserem em um modelo de cultura unificador e detentor da verdade. A isso convergem decisivamente a questão da Fé (sim, com f maiúsculo, pois é base de toda a certeza acerca da verdade mencionada) e o caráter missionário atrelado ao modelo de ocupação e conquista, ou seja, trazer os vocábulos que faltam aos selvagens: Fé, Lei e Rei, nas palavras de Pero de Magalhães de Gândavo.

O imaginário sobre esse período se tornou terra fértil para produções futuras. Vários textos tiveram como mote esse entrechoque de culturas. Para citarmos dois exemplos diferentes –tanto na temática quanto na forma literária, visto se constituírem de uma narrativa e de um poema -, dessa visão sobre o período, podemos citar a obra Terra Papagalli, de José Roberto Torero e Marcus Aurelius Pimenta. Nesta narrativa, a personagem-narrador Bacharel Cosme Fernandes é um degregado que fazia parte da esquadra de Pedro Álvares Cabral. O texto procura fazer uma crítica à sociedade atual apontando elementos pejorativos a partir da visão de Cosme Fernandes.



E daquela terra que hoje chamam Brasil (...), digo que de pouco proveito se pode tirar dela, porque vem se povoando de homens cobiçosos. É isso um grande mal, porque é como um Éden, e penso que Deus nos fez vir até ela para que fizéssemos uma nação diferente de todas as outras, porém, segundo a coisa se abala, está bem parecida com a nossa, onde reinam a burla, a roubaria e pode mais quem é mais velhaco. (TORERO, J. R.; PIMENTA, M. A. Terra Papagalli. São Paulo: Companhia das Letras, 1997, p. 198).



O segundo exemplo vem de um poema de Oswald de Andrade, publicado em Pau-brasil, de 1924, intitulado A Descoberta. Nele convergem interpretações e atribuições de sentido aos atos dos viajantes, invertendo a pretensão de verdade presente na Carta, de Pero Vaz de Caminha.

1.           Seguimos nosso caminho por este mar de longo
2.           Até a oitava da Páscoa
3.           Topamos aves
4.           E houvemos vista de terra
5.           os selvagens
6.           Mostraram-lhes uma galinha
7.           Quase haviam medo dela
8.           E não queriam por a mão
9.           E depois a tomaram como espantados
10.       primeiro chá
11.       Depois de dançarem
12.       Diogo Dias
13.       Fez o salto real
14.       as meninas da gare
15.       Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis
16.       Com cabelos mui pretos pelas espáduas
17.       E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas
18.       Que de nós as muito bem olharmos
19.       Não tínhamos nenhuma vergonha.