Tendo como base o texto de Paulo Leminski, elabore uma reflexão que articule o trecho citado com as características do Simbolismo, especialmente sobre a produção de Cruz e Sousa. Procure relacionar a produção de Cruz e Sousa (ao menos um poema) com a de outro poeta brasileiro, apresentando aproximações e diferenças [tanto no aspecto do estilo do autor quanto do estilo de época] entre as obras citadas.
"Poesia não é literatura. É outra coisa: é arte, mais para o lado da música e das artes plásticas, como Pound viu (ou ouviu) muito bem.
Da imprensa às vanguardas do início deste século, durante o período de sequestro da poesia pela literatura (na Idade Média, a lírica era oral, envolvendo canto, dança e festas, camponesas ou cortesãs;; os textos, raros, eram manuscritos, primores caligráficos de forma e cor; com a imprensa, a poesia virou 'letra', na homogeneidade linear dos inodores, insípidos e incolores ABCS de Gutenberg; no século XX, com as vanguardas e a música popular, a poesia volta à vida dos sentidos, em forma, voz e cor), nesse período, algumas coisas ficaram dizendo que a poesia não era bem a literatura que estavam querendo fazer com ela. Entre essas coisas, a métrica. E, sobretudo, a rima. Nessas materialidades a poesia manteve sua individualidade. Não basta dizer. Tem que dizer bonito.
A métrica só se justifica pela presença de uma melodia, construída sobre a regularidade matemático-pitagórica da música.
A métrica, em poemas escritos para serem lidos no papel, é um absurdo: o olho não ouve a música. Ou ouve? Os simbolistas (a partir de Baudelaire) achavam que sim.
Nessa nossa pobre cultura reflexa, que, no entanto, tem e teve seus momentos de grandeza (...), o parnaso e o símbolo representaram especializações de conquistas do romantismo, no fundo, uma explosão de poesia (de vida) no coração da literatura.
As frígidas construções parnasianas (Bilac, Raimundo Correia) eram mal-assombradas (ou bem-assombradas?) pelos fantasmas de um superego saído das artes plásticas (quadros de uma exposição, retratos do artista enquanto pintor, escultor, arquiteto, ourives, artesão).
O simbolismo mudou de sentido: do olho para o ouvido.
Nunca foi tão funda a saudade da poesia pela música perdida quanto no simbolismo. (...)
O poeta simbolista é um músico. Músico de palavras, de sílabas, de vogais e consoantes. Seus poemas: baladas, sonatas, sinfonias.
Mas, no simbolismo, ao contrário de um Arnaut Daniel, a entrada da música implica uma destruição do 'significado'. O massacre dos sentidos pelos sons."
LEMINSKI, Paulo.
Vida: Cruz e Sousa, Bashô, Jesus e Trotski - 4 biografias.
São Paulo: Companhia das Letras, 2013.