terça-feira, 16 de outubro de 2018

Romantismo - considerações sobre ideologias e identidades

Alfredo Bosi comenta que há "momentos-limite na cultura romântica em que a relação do eu com a História parece perder a sua dimensão mais abertamente social; então, o texto faz retroceder o horizonte do sentido à pura subjetividade. A crônica dos tempos coloniais, matriz do romance alencariano, foi posta entre parênteses no desfecho selvagem e mítico de O Guarani. Essa razão interna do primitivismo romântico fala ainda mais alto e com menos mediações na poesia lírica." (p. 179).
Essa reflexão apresenta essa ideia da subjetividade lírica como sendo a representação maior do Romantismo, criticando-a em parte e identificando como a consolidação desse valor se consolidou. A construção de identidades com base nas visões ideológicas do período colaboraram com a consolidação de valores - às vezes criando-os em um cenário histórico carente de referenciais próprios - que transcendem os tempos: o seu próprio e o futuro a partir de um imaginário sempre familiar sobre os papéis sociais considerados inquestionáveis.
Nesse sentido, procure refletir sobre essas construções identitárias tomando por base as discussões e os debates realizados nos encontros da disciplina relacionando com pelo menos uma das imagens abaixo. Selecione um poema do período do romantismo para fazer uma comparação ou contraponto à sua leitura da(s) imagem(ns), justificando sua escolha. Como parte do trabalho, pesquise os nomes dos pintores e os contextos de produção das obras.



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8 comentários:

  1. O Romantismo começa no início do século XIX e vem da necessidade de uma nova estética artística pós Revolução Francesa.A ascenção da burguesia,os valores burgueses e o fim do absolutismo estético cria a necessidade de um novo modelo de arte.Nesse momento,o liberalismo político,econômico,social e educacional dá inicio a um novo público consumidor de arte e,com isso,há a consolidação do estilo romântico.O contexto histórico brasileiro conta com a vinda da Família Real para o Rio de Janeiro em 1808,que traz grandes mudanças para a vida na colônia.Logo na sequência em 1822,há a proclamação da independência.Nesse momento,é que o Brasil começa a se estabelecer como uma pátria.Deixa de ser uma colônia para ser uma nação.As construções identitárias se estabelecem a partir da comunhão de sentidos.Em coletividade,grupos,comunidades, nações,estruturas de comunhão de origem e pertencimento se afirmam em função de um passado-presente e de um reconhecimento futuro.Os processos identitários procuram legitimidade nos mitos,na política,nas artes,religiões e ciências,disputando uma consciência de sua história,e por ela a unidade.Ao pensar na origem,os sentidos revivem a ideia de pertencimento,o ponto em que a saudade(prazerosa) desperta,as contradições se explicam,as diferenças são indicadas e analisadas.Esses elementos agem na construção de um projeto de nação e da identidade nacional,um construto ideológico que ganhará difusão por meio da intelectualidade,como ocorre no século XIX.No distanciamento do racionalismo iluminista,impulsionou a sensibilidade rompendo os rígidos padrões clássicos ao exaltar o individualismo,a natureza,os costumes do povo,a tradição,entre outros.Como referencial dessas construções identitárias,utilizo a 4a imagem,uma aquarela sobre papel do pintor francês Jean-baptiste Debret(1768-1848)Feitor açoitando negros na roça,de 1828.Debret foi um pintor que deixou um acervo muito importante para o estudo da história do Brasil.Foi pintor da Corte de Napoleão,além de ter sido pintor oficial da Coroa Portuguesa no Brasil.É por esse motivo que suas obras retratam acontecimentos oficiais.Os escritores dessa geração tinham o tema da liberdade como principal de suas produções.Assim,a poesia volta-se para a defesa da República e do abolicionismo,o foco das produções está concentrado nos pobres,marginalizados e nos negros escravizados.Por Isso,escolhi para fazer um contraponto ao desenho de Debret,o poema "Vozes da África" de Castro Alves(1847-1871).O escritor ficou conhecido como o maior poeta brasileiro da poesia social romântica.O poeta trata de questões nacionais pautadas em uma forte crítica social,o tema social mais importante nas suas obras foi a denúncia da escravidão,que lhe fez ganhar o apelido de "Poeta dos Escravos".Segue um trecho do poema:"Deus!ó Deus!onde estás que não respondes?/Em que mundo,em qu'estrela tu t' escondes/Embuçado nos céus?/Há dois mil anos te mandei meu grito,/Que embalde desde então corre o infinito.../Onde estás,Senhor Deus?/Qual prometeu tu me amarraste um dia/Do deserto na rubra penedia/Infinito:galé!".O poema Vozes da África reclama o fim dos crimes contra seus filhos e a reparação da injustiça contra eles.As figuras de linguagem,como as metáforas,comparações e inversões,acompanhadas da apóstrofe do início que é direcionada a Deus,fazem com que o texto torne-se impactante sonoramente.O poeta buscava um grande ideal democrático,a solução de todos os problemas vividos pelo pais:a República.O clima da Literatura romântica,entre outras características,promoveu uma identidade original capaz de dar sentido aos membros da nação.Uma tarefa que almejava não apenas se autoafirmar,mas aproximar a relevância das nossas ideias às modernas nações europeias.Fazer parte desta história é o que movimenta os membros de uma nação.A construção do ser se remete à construção do lugar,um espaço permeado de significados.Um ambiente em que se desenvolvem as mais eficazes marcas identitárias. Maurício Machado Gonçalves

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  2. O Romantismo surgiu entre o final do século XVIII e início do século XIX, desenvolvendo-se na Europa num momento em que acontecia a ascensão da burguesia e dos ideais da Revolução Francesa. No Brasil, seu aparecimento foi influenciado pelas derradeiras produções do Arcadismo e pelo sentimento de nacionalismo com o advento da independência. O Romantismo caracterizou muitas obras de pintura, literatura, música, arquitetura, historiografia e crítica na civilização ocidental.
    Com a independência do Brasil (1822), ocorre o fortalecimento do sentimento nativista, representado por um dos principais poetas que é Gonçalves Dias. Com sua proeminente qualidade literária e seu sucesso poético na construção do indianismo. O poeta é o principal consolidador das novas ideias pelo viés do nacionalismo, devido sua abordagem do índio não etnograficamente, mas pondo nele os sentimentos e as emoções comuns a todos os homens.
    Gonçalves Dias, entre outras obras, escreveu I-Juca Pirama que é uma epopeia indianista não concluída, visto que o autor faleceu antes de concluí-la. Constitui-se numa narrativa que tem uma introdução e quatro cantos, em que o mito do bom selvagem, referido desde os árcades, torna-se verdade artística. Essa produção literária é a nítida realização do indianismo na poesia brasileira.
    A seguir cito trechos dos cantos I e IV de I-Juca Pirama:
    I
    No meio das tabas de amenos verdores,
    Cercadas de troncos - cobertos de flores,
    Alteiam-se os tetos de altiva nação. (...)
    São todos Timbiras, guerreiros valentes!
    Seu nome lá voa na boca das gentes,
    Condão de prodígios, de glória e terror!
    IV
    Meu canto de morte,
    Guerreiros, ouvi:
    Sou filho das selvas,
    Nas selvas cresci;
    Guerreiros, descendo
    Da tribo tupi.
    Da tribo pujante,
    Que agora anda errante
    Por fado inconstante,
    Guerreiros, nasci;
    Sou bravo, sou forte,
    Sou filho do Norte;
    Meu canto de morte,
    Guerreiros, ouvi.
    O Romantismos tem o pressuposto de originalidade nacional e de divisão entre as literaturas europeias e brasileira, o que Antônio Cândido diz ser uma ilusão, porque esta àquelas pertence. Entre as ilusões citadas está o índio, com virtudes arbitrariamente postas, adquirindo a função de ter a imagem ideal da originalidade nacional, constituído dessa idealidade, o índio estava acima das particularidades regionais, desviado da mestiçagem com o negro, ficando ajustado ao mito de um passado glorioso, reforçando o sentimento de identidade.
    José de Alencar promoveu a tentativa de reconstituição do processo de construção da nacionalidade brasileira, construindo personagens que encarnariam a idealização dos tipos formadores da nação brasileira, elegendo o índio como o símbolo da origem do povo brasileiro. No romance indianista Iracema, narra a união entre a “formosa índia” e o “nobre guerreiro português” Martim, desse enlace nasce Moacir, que significa o filho da dor, que simbolizaria a origem da raça brasileira.
    O incentivo em cultivar o amor pela terra e em orgulhar-se da nacionalidade brasileira foi o que estabeleceu a ideologia indianista. O indianismo proporcionava uma imagem positiva do povo brasileiro com o amor à terra e a valorização da comunidade.
    Escolhi a primeira imagem, Moema, uma pintura a óleo, do pintor brasileiro Victor Meirelles de Lima, pintada em 1866, que retrata a personagem homônima do poema épico Caramuru (1761), de Santa Rita Durão, objetivando dialogar com a poesia indianista do Romantismo, retratada em I-Juca Pirama, de Gonçalves Dias. Seguindo os princípios românticos, o corpo da personagem Moema é um tipo ideal. É uma figura marmórea, com a cor local, cabelos negros e lisos, pele morena. Ela é adequada ao imaginário brasileiro da época, à construção de uma nacionalidade baseada na exaltação da figura da indígena e na sua heroicizarão.









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  3. O romantismo foi um movimento artístico, político e filosófico surgido nas últimas décadas do século XVIII na Europa durou por grande parte do século XIX. Caracterizou-se como uma visão de mundo contrária ao racionalismo e ao iluminismo e buscou um nacionalismo que viria a consolidar os estados nacionais na Europa.
    O romantismo era uma oposição ao modelo clássico, o individualismo passa a ser o centro das atenções.
    Romantismo no Brasil
    Após 1822, busca-se o passado histórico, exalta-se a natureza da pátria;na realidade, características já cultivadas na Europa e que se encaixavam á necessidade brasileira de ofuscar profundas crises sociais.
    Como referencia cito a obra Canção do exílio de Gonçalves Dias, que fala sobre a expatriação que se encaixa nas imagens acima.
    Gonçalves Dias:


    Canção do exílio

    Minha terra tem palmeiras,
    Onde canta o Sabiá;
    As aves, que aqui gorjeiam,
    Não gorjeiam como lá.
    Nosso céu tem mais estrelas,
    Nossas várzeas têm mais flores,
    Nossos bosques têm mais vida,
    Nossa vida mais amores.


    Em cismar, sozinho, à noite,
    Mais prazer encontro eu lá;
    Minha terra tem palmeiras,
    Onde canta o Sabiá.




    Minha terra tem primores,
    Que tais não encontro eu cá;
    Em cismar — sozinho, à noite —
    Mais prazer encontro eu lá;
    Minha terra tem palmeiras,
    Onde canta o Sabiá.



    Não permita Deus que eu morra,
    Sem que eu volte para lá;
    Sem que desfrute os primores
    Que não encontro por cá;
    Sem qu'inda aviste as palmeiras,
    Onde canta o Sabiá.

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  4. Para começar, você sabe o que foi o Romantismo? Movimento artístico, político e filosófico surgido nas últimas décadas do século XVIII, e caracterizou-se como uma visão de mundo contrária ao racionalismo e ao iluminismo buscando o nacionalismo.
    E quando aconteceu o Romantismo no Brasil? No Brasil, teve como marco inicial a publicação do livro de poemas de Gonçalves de Magalhães. No contexto histórico, a recente Independência do Brasil, absorvido pelo pensamento nacionalista-ufanista do país, fez com que os escritores deste período buscassem temáticas que definissem a identidade nacional, afastando-se dos moldes europeus e buscando uma arte realmente brasileira. Por esse motivo, o tema do índio é muito explorado nessa fase, conhecido por “Indianismo”.
    Quais as principais características da literatura romântica no Brasil? Subjetivismo e egocentrismo; Indianismo; Nacionalismo e ufanismo; Culto à natureza; Religiosidade; Dentre outros. Em um resumo geral, é interessante saber que o Romantismo no Brasil está dividido em três fases:
    - A 1ª geração romântica (1836 a 1852), está pautada no nacionalismo-indianismo, visto como a fase inicial para a busca de uma identidade nacional.
    - A 2ª geração romântica (1853 a 1869), denominada de “mal do século” ou “ultrarromântica”, destacou-se pela abordagem de temas como a morte, a dor, o amor não correspondido.
    - A 3ª geração romântica (1870 a 1880), chamada de “geração condoreira”, ressalta a importância da liberdade.
    De todos os autores do romantismo, ressalto o escritor brasileiro “Gonçalves de Magalhães”, por sua obra “Suspiros Poéticos e Saudades” que foi seu marco inicial, é uma obra poética antilusiana, onde enfoca o patriotismo, o nacionalismo, o individualismo e o sentimentalismo.
    No seu livro, o poeta escreve a seguinte poesia: “A Tristeza”
    Triste sou como o salgueiro / Solitário junto ao lago, / Que depois da tempestade / Mostra dos raios o estrago. / De dia e noite sozinho / Causa horror ao caminhante, / Que nem mesmo à sombra sua / Quer pousar um só instante. / Fatal lei da natureza / Secou minha alma e meu rosto; / Profundo abismo é meu peito / De amargura e de desgosto. / À ventura tão sonhada, / Com que outrora me iludia, / Adeus disse, o derradeiro, / Té seu nome me angustia. / Do mundo já nada espero, / Nem sei por que inda vivo! / Só a esperança da morte / Me causa algum lenitivo.
    Partindo desse poema, tive profunda admiração pela primeira obra, “Moema”, pintura a óleo, do pintor brasileiro Victor Meirelles de Lima, pintada em 1866. O pintor retrata a personagem homônima do poema épico Caramuru (1781), de Santa Rita Durão. A obra não reproduz uma cena da produção literária, trata-se da interpretação de Meirelles acerca do destino da índia, que imerge nas águas após ser rejeitada por seu amado Caramuru. O corpo da personagem é um tipo ideal, seguindo os princípios românticos. Trata-se de uma figura marmórea, com a cor local, pele morena, cabelos negros e lisos. Ela corresponde ao imaginário brasileiro da época, à tentativa de construção de uma nacionalidade pautada na exaltação da figura da indígena e na sua heroicização.
    Mas por qual motivo escolhi essa pintura e esse autor? Escolhi o autor por ter sido o marco inicial do romantismo no brasil e já a pintura, escolhi por que quando li o poema “a tristeza”, a primeira coisa que me veio ao pensamento foi a pintura de Meirelles. Apesar de as obras de Gonçalves de Magalhães se encaixarem na primeira geração, o poema acima a ser analisado se encaixa na segunda geração, tendo como principais características o pessimismo, mal do século, exagero, consciência da solidão e ilogismos.
    A pintura consegue demostrar de forma clara quão solitária e profunda é a tristeza, representada por uma mulher deitada a beira mar, como se fosse o fim, a menina caída mostra de forma clara, o que o autor expressa no poema quando diz: “Do mundo já nada espero, / Nem sei por que inda vivo! / Só a esperança da morte / Me causa algum lenitivo”, demonstra o vazio da alma, na angústia, que espera a morte, um escape.

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  5. O Romantismo que teve seu início no século XVIII e se estendeu até o final do século XIX, foi de suma importância para a construção identitária do Brasil, principalmente a partir de 1822, quando o Brasil vivia um momento conturbado por conta do autoritarismo de Dom Pedro I. O movimento surgiu em meio a um alto sentimento nacionalista.
    O Romantismo foi além da Literatura, foi um movimento artístico e filosófico, centrado no individuo, na valorização do “Eu”, carregado de subjetividade, dramas pessoais e tragédias de amor, ou seja, a arte voltada ao lirismo e a emoção.
    A partir de 1822, com a independência política do Brasil, a Literatura Romântica teve papel decisivo na consolidação de uma consciência identitária nacional, e o índio foi elevado a verdadeiro símbolo dessa nacionalidade.
    O Romance indianista foi uma marca da literatura romântica, como bem exemplificado no Romance “O Guarani” de José de Alencar, onde o índio é retratado como um herói, conferindo lhe um sentido mítico e um símbolo da nacionalidade brasileira.
    Esta representatividade é encontrada não somente na literatura, como também nas artes, a exemplo das pinturas que ilustram este comentário. A primeira tela, de Victor Meirelles “Moema” de 1866 é uma obra Indianista. A índia nua estendida sobre belas paisagens naturais é inspirada no poema épico, Caramuru (1781) de Frei José de Santa Rita Durão. Meirelles criou um imaginário para a subjetividade do desfecho da personagem Moema, do poema original de Durão, que não menciona o que teria acontecido a ela após ser sorvida pelo mar. Na tela, as lindas paisagens naturais ao fundo contrastam com a melancolia da cena de morte de Moema, bela e rejeitada, que morre por amor a Caramuru, o sentimentalismo exacerbado e as emoções pessoais presentes tanto no poema, quanto na tela, características do romantismo.
    A segunda obra, “Índios – Guerreiros” de 1957 de Carybé, pintor argentino, naturalizado brasileiro. O painel no Edifício Campo Grande em Salvador Bahia, foi um dos tantos murais que o artista foi contratado para fazer em prédios e obras públicas. Seus trabalhos retratam a cultura brasileira, sua principal inspiração.
    A terceira obra, “Mestiço” 1934, de Cândido Portinari, sugere uma mistura entre índio e negro. E suas características fortes e marcantes, sugerem virilidade, seriedade e dureza. O cenário rural ao fundo, evidencia a vida de trabalhador, e as belezas naturais, também características românticas, que abordam a ideia do índio como símbolo nacional.
    A quarta obra, “Castigo de Escravo” de Jean Baptiste Debret, pintor e professor francês. Suas obras retratavam os escravos, índios, a fauna e flora brasileira, assim como a nação mestiça que se formara aqui. Apesar de suas aquarelas terem características neoclássicas, suas telas traziam comentários sobre os costumes brasileiros e informações sobre a cena retratada com uma luz romântica. Debret retratava um Brasil sustentado pelo suor de escravos africanos e habitado por indígenas orgulhosos de suas culturas.
    Eduardo Dutra



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  6. O poema “A morte de Moema” de Santa Rita Durão, que inspirou o quadro “Moema” de Victor Meirelles, retrata a tentativa de Moema de ser aceita por Caramuru, que representa Portugal (a ideologia dominante e colonizadora). A irmã de Moema é levada por Caramuru, pelo fato de ser mais alva e bela, portanto compatível com os ideais estéticos portugueses, enquanto que Moema, embora o amasse, tinha características indígenas, que eram vistas como inferior por Portugal. A tentativa de pertencer a Portugal leva Moema a morte, e isso não tem relevância a Caramuru, de acordo com o trecho a seguir:
    Tão dura ingratidão menos sentira
    E esse fado cruel doce me fora,
    Se a meu despeito triunfar não vira
    Essa indigna, essa infame, essa traidora.
    Por serva, por escrava, te seguira,
    Se não temera de chamar senhora
    A vil Paraguaçu, que, sem que o creia,
    Sobre ser-me inferior, é néscia e feia.

    XLI

    Enfim, tens coração de ver-me aflita,
    Flutuar, moribunda, entre estas ondas;
    A um ai somente, com que aos meus respondas.
    Bárbaro, se esta fé teu peito irrita,
    Nem o passado amor teu peito incita
    (Disse, vendo-o fugir) ah! não te escondas
    Dispara sobre mim teu cruel raio...”
    E indo a dizer o mais, cai num desmaio.
    Portugal buscava tirar do Brasil tudo que lhe fosse interessante (riquezas, madeiras, pedras e quaisquer materiais que pudessem os enriquecer ainda mais), e desprezava o povo que aqui estava vivendo e sua cultura.
    Moema representa a identidade e cultura nacional (em construção no período) sendo assassinada pela Ideologia Colonizadora portuguesa, na tentativa de pertencimento à ela.
    Atualmente, este ideal ainda pertence ao povo brasileiro, ao estar buscando seguir a cultura dominante vigente em cada período histórico, em detrimento da própria cultura nacional indígena e latino-americana.
    Raquel Portella de Souza

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  7. O Romantismo veio após o Arcadismo, ao contrário da escola anterior ocorre nesta a exaltação à paz e ao amor dão lugar a IDEALIZAÇÃO.
    A terceira geração chamada ´´Geração Social`` ou ´´Condoreira`` ocorre uma forte presença dos movimentos abolicionista e republicanos. Nesta geração o principal autor é Castro Alves.
    Este Autor apresentou um sentimento de revolta contra a escravidão, como vemos em um trecho do poema O NAVIO NEGREIRO:

    V


    Senhor Deus dos desgraçados!
    Dizei-me vós, Senhor Deus!
    Se é loucura... se é verdade
    Tanto horror perante os céus?!
    Ó mar, por que não apagas
    Co'a esponja de tuas vagas
    De teu manto este borrão?...
    Astros! noites! tempestades!
    Rolai das imensidades!
    Varrei os mares, tufão!

    Quem são estes desgraçados
    Que não encontram em vós
    Mais que o rir calmo da turba
    Que excita a fúria do algoz?
    Quem são? Se a estrela se cala,
    Se a vaga à pressa resvala
    Como um cúmplice fugaz,
    Perante a noite confusa...
    Dize-o tu, severa Musa,
    Musa libérrima, audaz!...

    São os filhos do deserto,
    Onde a terra esposa a luz.
    Onde vive em campo aberto
    A tribo dos homens nus...
    São os guerreiros ousados
    Que com os tigres mosqueados
    Combatem na solidão.
    Ontem simples, fortes, bravos.
    Hoje míseros escravos,
    Sem luz, sem ar, sem razão. . .

    São mulheres desgraçadas,
    Como Agar o foi também.
    Que sedentas, alquebradas,
    De longe... bem longe vêm...
    Trazendo com tíbios passos,
    Filhos e algemas nos braços,
    N'alma — lágrimas e fel...
    Como Agar sofrendo tanto,
    Que nem o leite de pranto
    Têm que dar para Ismael.

    Lá nas areias infindas,
    Das palmeiras no país,
    Nasceram crianças lindas,
    Viveram moças gentis...
    Passa um dia a caravana,
    Quando a virgem na cabana
    Cisma da noite nos véus ...
    ... Adeus, ó choça do monte,
    ... Adeus, palmeiras da fonte!...
    ... Adeus, amores... adeus!...

    Depois, o areal extenso...
    Depois, o oceano de pó.
    Depois no horizonte imenso
    Desertos... desertos só...
    E a fome, o cansaço, a sede...
    Ai! quanto infeliz que cede,
    E cai p'ra não mais s'erguer!...
    Vaga um lugar na cadeia,
    Mas o chacal sobre a areia
    Acha um corpo que roer.

    Ontem a Serra Leoa,
    A guerra, a caça ao leão,
    O sono dormido à toa
    Sob as tendas d'amplidão!
    Hoje... o porão negro, fundo,
    Infecto, apertado, imundo,
    Tendo a peste por jaguar...
    E o sono sempre cortado
    Pelo arranco de um finado,
    E o baque de um corpo ao mar...

    Ontem plena liberdade,
    A vontade por poder...
    Hoje... cúm'lo de maldade,
    Nem são livres p'ra morrer. .
    Prende-os a mesma corrente
    — Férrea, lúgubre serpente —
    Nas roscas da escravidão.
    E assim zombando da morte,
    Dança a lúgubre coorte
    Ao som do açoute... Irrisão!...

    Senhor Deus dos desgraçados!
    Dizei-me vós, Senhor Deus,
    Se eu deliro... ou se é verdade
    Tanto horror perante os céus?!...
    Ó mar, por que não apagas
    Co'a esponja de tuas vagas
    Do teu manto este borrão?
    Astros! noites! tempestades!
    Rolai das imensidades!
    Varrei os mares, tufão! ...

    Na quarta imagem vemos um negro escravizado amarrado sendo açoitado pelo feitor, indo a contramão de uma característica desta geração: a LIBERDADE, a revolta as injustiças sociais, um olhar em direção ao futuro melhor. Também se observa a utilização de elementos da natureza para questionar o processo de escravização dos negros, com uma preocupação social e um dever de denunciar esta situação.
    Evandro Moreira Quevedo

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  8. Para refletir sobre as imagens, a citação de Alfredo Bosi e sua análise de que no romantismo havia uma tentativa de consolidação de um imaginário cultural ou uma identidade Brasileira com a exaltação de figuras e paisagens naturais desta terra, proponho a reflexão sobre o seguinte excertos da obra " I-Juca-Pirama" de Gonçalves Dias e da pintura "O Mestiço" de Cândido Portinari:

    "Meu canto de morte,/ Guerreiros, ouvi:/ Sou filho das selvas,/ Nas selvas cresci; /Guerreiros, descendo/ Da tribo Tupi.
    Da tribo pujante,/Que agora anda errante/Por fado inconstante,/Guerreiros, nasci:/ Sou bravo, sou forte,/ Sou filho do Norte; /Meu canto de morte,/ Guerreiros, ouvi.
    - canto IV, Estrofe 1 e 2

    Vemos a idealização de um "Selvagem forte" à imagem do ethos dos romances de cavalaria do Séc. XVII, no caso do romance de Gonçalves Dias, este ainda se encontra na forma pura, de bravura bélica, da ligação com a mãe-terra ou de um ideal nacionalista se dialogarmos com o conceito de "pátria-mãe" – este último também podem ser encontrados na personificação da nossa identidade n'O Mestiço (Portinari, 1934), uma obra mais recente, fora do contexto da escola literária denominada romantismo, mas não menos importante que evidencia a tentativa constante da busca por um projeto de identidade que até hoje não foi alcançado.

    É importante que destaquemos nessa análise essa "subjetividade européia" (pois as tribos indígenas não a reconhecem) que na tela é evidenciada pela figura do mestiço forte no centro, de braços cruzados, com a paisagem natural modificada pela exploração de sua mão-de-obra.

    Dada essa questão identitária, a atenção ao detalhes, a maior atenção aos sentimentos, ou seja, a ruptura com o modelo do racionalismo Iluminista, a arte literária romântica propagada nos jornais aproxima e cria um público leitor fiel após a independência. Era o reflexo de um jovem Brasil emergindo como sociedade moderna tentando reparar suas feridas. Fugindo da realidade pós-colonial que culmina na arte abolicionista no final do século XIX e ainda hoje.

    Gabriel Monteiro

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