terça-feira, 6 de novembro de 2018

Papéis avulsos

Papéis avulsos é o título do terceiro livro de Machado de Assis. Lançado em 1882, se constitui em uma das obras mais representativas do Realismo no Brasil. Apesar do título do livro, existe uma unidade entre as narrativas na forma em que a ironia é construída, visto que Machado de Assis apresenta um viés de crítica social, moral e ética no "diálogo" entre as personagens e os leitores, trazendo questões e situações que provocam as ideias na sua contramão. A exposição realista - antecipando uma escrita moderna - de personagens que abdicam da sua própria formação em prol do êxito social evidencia uma preocupação com os rumos da sociedade do seu tempo e do porvir...
A partir da escolha de um dos contos dessa obra de Machado de Assis, apresente uma discussão breve sobre o emprego da ironia como categoria literária, ou seja, o efeito irônico que perpassa a escrita e situa a crítica/reflexão de maneira consistente. Caso considere necessário, é possível apresentar a relação entre dois ou mais contos.


5 comentários:

  1. A Teoria do Medalhão é um dos contos que faz parte da coletânea Papéis Avulsos, de Machado de Assis, escrita em 1882, considerado um dos contos mais marcante da obra de Machado de Assis. O referido conto possui o viés de doutrina filosófica, servindo de modelo eficaz de como se tornar um prestigiado “medalhão”, ou seja, alguém sem efetivo valor, no entanto por meio do dinheiro, dos amigos ou influências arranjadas pode atingir altas posições no âmbito social e público.
    O conto é em forma de diálogo, em que um pai dá conselho e ensina ao filho o grande proveito que se tem de não ser “afligido de ideias próprias”. A Teoria do Medalhão sugere que a perfeita convivência deva ser acatada a partir do momento em que é aceito os papéis socialmente marcados, com suas ideologias e interesses. Ser original contraria ao que é socialmente conveniente. Na crítica do Bruxo de Cosme Velho, o homem é previsível, seu comportamento pode ser adivinhado conforme as circunstâncias.
    Na Teoria do Medalhão está presente os ensinamentos, através da observação, dos meios de ascensão aos poderes social e político e de sua conservação, mesmo cometendo certos desvios de caráter, como descreve Machado. No conto o pai tenta instrumentalizar o filho, oferecendo-lhe condições e aconselhamentos necessários a uma vida vazia, porém distinta e notável.
    No referido conto, Machado de Assis escreve a estratégia empregado pelo pai de Janjão ao utilizar a observação da prática dos homens e transformá-las em teoria a ser seguida pelo filho, mas fora de seu contexto ela pode ser considerada ironicamente como sendo a própria teoria do genitor: “[...] mas proíbo-te que chegues a outras conclusões que não sejam as já achadas por outros.”.
    Na Teoria, a experiência alheia deve ser levada em conta, ficando atento aos seus insucessos, para que não sejam repetidos, e sobretudo para suas glórias, para que fielmente sejam reproduzidas, para que possa atingir altas posições sociais, poder e preservá-los.
    Nesse conto machadiano, a técnica que proporcionará um medalhão perfeito é elucidada por normas que devem ser obedecidas pelo candidato a figurão. Parte da premissa de que o medalhão deve ser alguém completamente vazio, iniciado na “arte difícil de pensar o pensado”, o progenitor de Janjão expressará sobre as maneiras de não ser invadido pelas próprias ideias e, particularmente, originais. O pai ensina ao filho reduzir o intelecto, “por mais pródigo que seja, à sobriedade, à disciplina, ao equilíbrio comum”. Esse encurtamento das ideias está disfarçado de sobriedade, equilíbrio e disciplina, mas que não corresponde a nenhum do três, é sim se refere ao vulgar senso comum do indivíduo.
    O pai não aconselha ao filho atividades como os esportes, mas menciona uma exceção que é o bilhar, que mesmo sendo considerado um esporte, “[...] a observação desmente a teoria. Se te aconselho excepcionalmente o bilhar é porque as estatísticas mais escrupulosas mostram que três quartas partes dos habituados do taco partilham as opiniões do mesmo taco”.
    A Teoria do Medalhão é explicada tendo como objetivo à inversão de valores aceitos pela sociedade. Os valores negativos são transformados em positivos, de maneira que o pai elogia o filho de uma forma inversa, de modo irônico: “- Tu, meu filho, se me não engano, pareces dotado da perfeita inópia mental, conveniente ao uso deste nobre ofício”.
    O medalhão de Machado se molda de acordo com as ideias alheias, não corre o risco de não ser aceito no convívio social. Prescreve que é a opinião dos outros é que faz o homem, ideias que se tem sobre ele, e não suas virtudes inatas. Realça que somos de acordo com o olhar dos que nos percebem, e não o que na realidade somos. Aqui aparece a aparência, enquanto desaparece a importância.
    Dessa maneira, percebe-se nesse conto a apologia da máscara, ou seja, aparência versus essência.



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  2. A Sereníssima República é um conto publicado inicialmente em 1882,na Gazeta de Notícias.Cônego Vargas,o narrador,discorre sobre a descoberta de uma espécie de aranha que possuía fala(similar à humana).Em decorrência desse fato,o cônego fundou uma sociedade de aracnídeos.Após as aranhas estarem socializadas,o passo seguinte seria,então,adotar uma forma de governo.A forma adotada foi a de uma República à maneira de Veneza.O sistema eleitoral utilizado era portanto,o do saco e bolas."Metiam-se as bolas com os nomes dos candidatos no saco,e extraía-se anualmente um certo número,ficando os eleitos,desde já aptos para as carreiras públicas".O conferencista observou que,mesmo sendo um sistema simples de votação,surgiram vários obstáculos dado que a sociedade das aranhas ainda era muito jovem e,por consequência imperfeita.Entre os obstáculos declarados pelo cônego,estava a facilidade em fraudar o sistema eleitoral.As damas da república,dez aranhas designadas para tecer os sacos eleitorais,eram,desse modo,obrigadas a adaptar o saco(espécie de urna) a cada eleição.O conto apresenta referências à Mitologia Clássica em dois momentos:a primeira quando o narrador acentua como principais qualidades dessa sociedade de aracnídeos a perseverança e a "longa paciência de Penélope",já a segunda no final do conto,quando Erasmus,cidadão respeitável dessa República,informou às damas dessa sociedade que deveriam refazer o saco eleitoral.Além da crítica ao sistema eleitoral que é expressa no conto,há um outro questionamento presente nessa narrativa:a do Cientificismo.Esse é uma concepção filosófica de cunho positivista,que se inicia da premissa de que fora da ciência não há salvação.Por se considerarem possuidores do verdadeiro saber das realidades,seus seguidores acreditavam que a ciência era superior a todas as outras formas de compreensão humana(religião,filosofia, metafísica,etc) e,também da racionalização completa do saber.O conto faz refletir que se tudo o que se pode comprovar por experiências laboratoriais realmente é verdadeiro,como acredita o cientificismo,a existência de uma espécie de aracnídeos que possui uma linguagem parecida com a nossa,organizada socialmente,seria possível,pela comprovação do Cônego Vargas,um cientista,que baseado na teoria do Cientificismo,possuía autoridade para tal experimento.Há uma citação por meio de uma analogia ao "mitema" da paciência de Penélope,rainha de Ítaca,que tem sua história na Odisséia,de Homero.Ela aguarda o retorno do marido após 20 anos de sua partida,as aranhas(sociedade),por sua vez esperam que um dia o sistema eleitoral seja perfeito e livre.No Conto machadiano,é evidenciado que o trabalho das aranhas não terá fim,já que sempre há uma maneira de burlar o sistema eleitoral da "Sereníssima República".O discurso literário do conto liga-se,ainda ao espaço "fantástico",mitológico(Retorno de Ulisses).O resultado da união desses planos temporais e espaciais tão diferentes resulta em um discurso carregado de ironia.As leituras do texto de Machado de Assis não se esgotam.Um exemplo disso,é a figura do Cônego Vargas,membro da Igreja Católica e ao mesmo tempo representante da ciência.No conto,o cônego,torna-se o próprio Deus,e não o seu representante.O escritor une o clássico,tido como superior(o mito de Ulisses e Penélope) ao absurdo(uma sociedade de aranhas falantes).Nessa sociedade de aracnídeos,há uma mistura de algo sério e profundo,e ao mesmo tempo leve e debochado,uma mistura do local brasileiro com o tradicional europeu.É essa união que dá o tom de ironia do texto. Maurício Machado Gonçalves.

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  3. O Empréstimo retrata dois personagens com visões diferentes em relação ao dinheiro.
    Tabelião Vaz Nunes no final de expediente recebe a visita de Custodio, que foi pedir dinheiro. Tabelião desvenda o interesse que se esconde atras da aparência, o segundo tem " a vocação da riqueza, sem a vocação do trabalho.Na hora em que se confrontam, revela-se a natureza de cada um deles.
    Percebi o confronto de disfarces entre os dois. Eles aparentam estar jogando a última cartada, ao mesmo tempo que cada uma das partes disfarça os trunfos de que ainda dispõe: a elasticidade da ambição, de um lado, e a capacidade de concessão, do outro. Ambos parecem sair satisfeitos com o próprio desempenho cujo ganho é minimo para um e a perda, insignificante para o outro.

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  4. No conto Teoria do Medalhão, o pai aconselha o filho de 21 anos a ser um medalhão, uma pessoa de prestígio social e de riqueza. E para isso, o filho deveria reprimir sua individualidade e capacidade de reflexão, visando adaptar-se à sociedade. Ser um medalhão implicaria em repetir ideias, reflexões, pensamentos já prontos, conhecidos socialmente; ao invés de desenvolver o intelecto, ou até mesmo utilizar a ironia, pois ela demanda mais esforço mental. Além de ser irônico um pai aconselhar o filho a ser apenas um "repetidor" para ter prestígio social, há a ironia de utilizar pensamentos que outros intelectuais já haviam produzido. Se tais intelectuais fossem medalhões, eles não teriam produzido tais reflexões. E também há a crítica de que a alta sociedade da época era preguiçosa ou medíocre intelectualmente, no entanto não aparentava ser assim, devido à repetição de pensamentos já produzidos anteriormente. O pai ensina o filho a parecer inteligente, culto; ao invés de ser. E no fim, faz referência a Maquiavel, corroborando que o importante é estar no poder.
    Raquel Portella de Souza

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