sábado, 11 de outubro de 2014

Propostas de escrita





PROPOSTA 1:
Faça uma leitura comparativa entre um dos Casos do Romualdo (de João Simões Lopes Neto) e uma das Histórias de Alexandre (de Graciliano Ramos) visando apontar semelhanças e diferenças entre as obras para além do enredo e da temática, procurando estabelecer uma reflexão acerca de algumas das questões culturais ali presentes.


PROPOSTA 2:
Na lenda A Salamanca do Jarau (de João Simões Lopes Neto) encontramos a convergência de várias narrativas que se somam para contar a história. Há a lenda que antecede a própria narrativa – que é apresentada ao leitor de duas maneiras: pela lembrança da avó charrua de Blau Nunes e pelo testemunho do sacristão – , passando pelos desafios de Blau Nunes até seu encontro com a Teiniaguá e suas aventuras com o presente dado pelo sacristão que fecha o ciclo no seu retorno e último encontro com as personagens da lenda. Comente o que dá a unidade dessa narrativa e discuta elementos relevantes para uma leitura além da imanência do texto.


PROPOSTA 3:
Partindo do conto de Guimarães Rosa – Famigerado – comente a função social da literatura, conforme a referência de Antonio Candido no ensaio A literatura e a formação do homem. Procure fazer referência a, pelo menos, um outro texto literário de livre escolha para contrapor e/ou amparar a discussão pretendida.

18 comentários:

  1. Proposta I

    Ao compararmos o conto “O papagaio” que se localiza no livro “Casos do Romualdo” de João Simões Lopes Neto com o conto “Um papagaio falador” que está presente no livro “Alexandre e outros heróis” de Graciliano Ramos, podemos observar certas semelhanças e diferenças que vão além do enredo e da temática que englobam os dois textos.
    De acordo com Walter Benjamin, em seu texto “O narrador”,
    “os narradores gostam de começar sua história com uma descrição das circunstâncias em que foram informados dos fatos que vão contar a seguir, a menos que prefiram atribuir essa história a uma experiência autobiográfica” (cap. 9).
    Contudo, apesar de os contos narrarem “experiências autobiográficas” das personagens, essas experiências narradas não são reais, pois Alexandre e Romualdo são figuras que contavam apenas mentiras e como personagens não viviam de fato o que contavam, usando, assim, as histórias apenas para enganar e impressionar seus ouvintes. Devemos observar também que as experiências foram inventadas pelos autores dos livros que utilizaram os mesmos para contá-las.
    Outra semelhança que podemos notar entre os dois contos refere-se à abordagem que os mesmos fazem acerca dos papagaios faladores. Entretanto, o papagaio referente ao livro de João Simões apenas “cantava as ladainhas do Padre Bento” (1992, p. 37) enquanto o papagaio do livro de Graciliano Ramos discursava sobre como o mantinham sempre amarrado, ao dizer: “... aqui em casa o costume é este. Vivo acorrentado” (19994, p. 36). Deste modo, através da última citação, podemos encontrar uma relação binária entre o tema da liberdade e o tema da prisão que cercam as duas narrativas. O papagaio presente no conto de Romualdo mostrava-se mais independente e livre, o que podemos relacionar com o habitat em que vivia, ou seja, a visão dos campos abertos dos pampas reflete a liberdade da qual o papagaio desfrutava. Todavia, o papagaio do conto de Alexandre estava sempre acorrentado, fazendo-nos lembrar das matas fechadas e áridas dos sertões de onde ele vinha e que remetem à prisão na qual este papagaio vivia.
    Ao pontuarmos as diferenças encontradas nos contos, percebemos que a narrativa se diverge. Enquanto nos “Casos de Romualdo” é ele próprio quem narra as histórias como um personagem-narrador, como vemos no trecho: “... pois o papagaio conheceu a minha voz, conheceu, porque logo retrucou-me...” (1992, p. 39), em “Alexandre e outros heróis” temos um narrador não onisciente de terceira pessoa que apenas introduz as histórias e possibilita que Alexandre e outros personagens narrem a história, como explícito no trecho: “Quem principiou a história do papagaio foi Cesária... e depois de alguns minutos Alexandre concluiu a narração” (1994, p. 34).
    Outra notória diferença encontrada nos contos é a origem de cada personagem, ou seja, cada personagem proveio de uma região, deixando assim, explícito no texto marcas de regionalismo, o que acarreta na diversificação das narrativas.
    Portanto, podemos concluir que mesmo sendo narrativas de regiões distintas e histórias divergentes, ainda assim podemos encontrar semelhanças e diferenças que unem as duas narrativas.

    Maria Eduarda H. Drumond

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  2. Referência Bibliográficas:

    * LOPES NETO, João Simões. Casos do Romualdo. 9. ed. Porto Alegre: Martins Livreiro, 1997.

    * RAMOS, Graciliano. Alexandre e outros heróis. 35. ed. Rio de Janeiro: Record, 1994.

    * BENJAMIN, Walter. O Narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov.In: Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994, p. 197-221.

    - Maria Eduarda Hilarino Drumond

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  3. PROPOSTA 3

    Daniela Mara dos Santos Andrade

    O conto “Famigerado”, de Guimarães Rosa, aborda o conflito existente entre o sertão e a cidade, representados, respectivamente, pelos personagens do jagunço e do doutor. Em relação ao ensaio A literatura e a formação do homem, de Antonio Candido, ressalta o quanto a literatura é relevante para a humanização do homem, tanto no âmbito psicológico; quanto no social.

    De acordo com o livro Lugar do mito: narrativa e processo social nas Primeiras estórias de Guimarães Rosa, de Ana Paula Pacheco, em relação ao conto “Famigerado”:
    A “lábia civilizada” do narrador (que lembra a habilidade do escritor que dignifica para a cidade e sertão, pelo famoso estilo, pela maneira de representar o mundo sertanejo) neste conto parece justamente diminuir este outro (jagunço) que se procura representar (Pacheco, 2006, p.78).

    Em outros termos, conforme Pacheco, o referido conto nos traz a ideia de que a literatura é formadora do caráter humano. Trazendo assim, uma análise entre o homem do sertão e o homem da cidade, de modo que a cidade seja representada como uma civilização; enquanto o sertão está em um patamar inferior, por meio da figura do jagunço.

    Também, no filme Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, o autor aborda o quanto a literatura de uma região influencia na crença e na tradição de um povo. O filme retrata questões a respeito do purgatório e do paraíso; do medo de ser castigado, devido a não cumprir uma promessa; da devoção a Nossa Senhora. Em outros termos, da crença a um determinado santo, por meio do povo do sertão.

    No texto “Literatura e Região e o Conceito de Espaço”, de Jochen Grywatsch, o autor enfatiza que o conceito de literatura não está relacionado ao estudo da literatura regional, com o intuito de discutir as características regionais existentes em uma determinada região, pois, segundo o autor, se pensarmos em uma literatura regional dessa maneira, estaríamos elevando a literatura regional ao seu alto grau de patriotismo.


    Em relação a questão da região e do espaço, a visão de espaço vai de encontro ao diacrônico, de modo, que a literatura regional deve ser pesquisada no âmbito cultural construído pelos regionalismos. Além disso, o regionalismo e o espaço são os responsáveis pela construção da cultura.

    Em suma, o conto “Famigerado”, de Guimarães Rosa, o filme Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna e o texto “Literatura e Região”, de Jochen Grywatsch, nos remetem a idéia de que a literatura, de fato, contribui para a formação do homem, conforme está descrito, também, no ensaio de Antonio Candido A literatura e a formação do homem. Uma vez que, de acordo com as referidas referências, a literatura regional, especificamente, absorve características culturais de um determinado povo, com a influência do meio onde se constrói (espaço).

    Sendo assim, podemos concluir que assim como a literatura participa da formação do ser humano, no aspecto social e psicológico, o próprio homem, também, contribui para a formação da literatura. De modo, que ambos dependam um do outro para a criação do fazer literário, o que, consequentemente, repercuti na formação do homem.

    Referências:
    GRYWATSCH, Jochen. O texto foi originalmente publicado com o título “Literatur in der Region”, em: ILBRIG, Cornelia; KORTLANDER, Bernd; STAHL, Enno (Org). Kurturelle Uberlieferung. Burgerturn, Literatur und Vereinswesen in Rheinland 1830-1945. Dusseldorf: Heinrich-Heine-Institut, 2008.p. 84-85.

    PACHECO, Ana Paula. Lugar do mito: narrativa e processo social nas Primeiras estórias de Guimarães Rosa. São Paulo: Nankin, 2006. 271 p. ISBN 8586372943 (broch.)

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  4. Proposta 1

    Marina de Oliveira Bicalho Alves Garcia


    As semelhanças entre as obras de João Simões Lopes Neto e Graciliano Ramos vai muito além do enredo e da temática, elas passam pela narrativa, pela diferenciação entre universalismo e regionalismo e pelas questões culturais familiares a ambos autores. No entanto, aquilo que aproxima as histórias é também o que as distancia por terem origens e contextos diferentes.
    A partir de uma análise comparativa dos contos “Primeira Aventura de Alexandre” de Graciliano Ramos e “O Papagaio” de João Simões Lopes Neto, prentendemos demonstrar os pontos de semelhança e diferença na narrativa destes autores.
    O primeiro ponto a ser destacado é o das narrativas, Alexandre apresenta uma narrativa em terceira pessoa com momentos de contação de histórias, sendo assim um personagem que narra. Romualdo por sua vez, apresenta uma narrativa em primeira pessoa, colocando-se como personagem-narrador da história. Além disso, Alexandre se utiliza de Cesária para confirmar os seus causos “Era, Alexandre, concordou Cesária”, recurso que não é utilizado por Romualdo que deixa a cargo daquele que ouve a história acreditar ou nçao em suas histórias. Outra diferença encontrada reside no tamanho das narrativas, os causos de Alexandre tendem a ser muito longos se comparados aos de Romualdo, seria a diferença de duração dos contos um recurso usado pelos autores para criar certa resposta do leitor? Contrapondo assim o dinamismo das histórias curtas com a riqueza de detalhes das histórias longas?
    O segundo ponto reside no regionalismo em detrimento do universalismo, em ambos contos apresentam-se cenas muito similares e que se desenvolvem de maneira parecida, no entanto o que poderia ser colocado como tema ou narrativa universal nada mais é do que a similaridade e familiaridade das regiões e seus costumes. “Continue deitado, de barriga para cima, espiando o carreiro de Sant’Iago e prestando atenção ao trabalho das formigas”, Alexandre em sua procura pela égua malhada, no lugar do qual resolveu observar descreve o que vê em seus arredores, assim como Romualdo em sua espera de onça o faz, “Eu mergulhava os olhos entre os troncos, os cipós e as japecangas a ver se bispava uma cor de ôpa”, os arredores das personagens são diferentes mas a atividade a que se propuseram de esperar a espreita é a mesma, trazendo assim o tom de familiaridade entre as regiões nos textos.
    Finalmente, as questões culturais que se apresentam nos contos são bastante diversas, no texto de João Simões Lopes Neto vemos a figura do gaúcho, atento a espera de sua caçada, descrente ante a estranheza dos fatos que se passavam com ele, “Uma vez estava eu na Serra, numa espera de onça”, já no texto de Graciliano Ramos temos a figura do nordestino pacato e que chega a dormir em sua espreita, quando acorda não quer levantar e que apesar do tom de fábula de sua história acredita piamente no que conta, “Uma onça-pintada, enorme, da altura de um cavalo”, Alexandre que havia ido procurar a égua voltou como uma onça e Romualdo que foi caçar onça deu de encontro com um papagaio falante. Apesar do contexto das personagens e suas origens serem diversas, a familiaridade das narrativas é o que aproxima os autores e do mesmo modo o que as distancia.

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  5. Bruna Sucupira de Barros28 de outubro de 2014 às 21:19

    Proposta 3

    Bruna Sucupira de Barros

    A literatura tem grande função psicológica e social na formação do caráter do homem. Ela universaliza a ficção e a fantasia, que muitas vezes o homem acaba tentando fugir. Com a literatura essa ideia de fantasia pode ser experimentada por todos. Segundo Candido, essa função formadora contribui para a formação da personalidade, que dá a literatura um caráter formativo e educativo, e que atua diretamente na formação do ser humano. O escritor defende que a literatura não corrompe nem edifica, mas sim humaniza o homem em sua totalidade.

    A partir do conto Famigerado de Guimarães Rosa, podemos ver a diferença do regionalismo entre os personagens a partir da própria fala entre eles, uma vez que a linguagem mais tradicional parte do personagem mais pobre (Damázio) e que vem do sertão, e que no caso, tem pouco conhecimento, precisando vir atrás do Médico da cidade ao sentir-se lesado para ter rapidamente uma a resposta para sua pergunta, mesmo que para isso tenha que usar da violência.

    Essa literatura que vemos, personaliza o homem sem fugir da realidade do mundo, uma vez que por trás disso podemos ter questões ideológicas do autor. Candido exemplifica essa questão relatando esse uso em que o personagem culto seria o urbano, e vemos isso no momento em que o médico com medo de Danúzio diz o significado da palavra ao sentir-se ameaçado, usando a fala que naquele momento tudo o que mais gostaria era de ser um “Famigerado”.

    Relacionando o texto de Guimarães Rosa com a “História de uma Guariba (Alexandre e outros Heróis)”, é possível chegar à conclusão que os dois contos são bem parecidos, levando em consideração que os mesmos são direcionados em torno de uma pergunta, e essa resposta é vital para o desenrolar do texto. Observamos também que em ambos há a ameaça do uso da violência, mas no final ela acaba sendo não utilizada e por fim é observado também a ambientação dos animais no meio dos humanos.

    O primeiro conto de Guimarães Rosa, gira em torno da resposta que o médico vai dar ao capanga, que é muito bem pensada, uma vez que desde o inicio ao ver os homens chegarem com os cavalos, o mesmo já se sente ameaçado e percebe o perigo a sua volta.

    Já no segundo, a pergunta é feita por um animal muito esperto (guariba), que deixa Alexandre surpreso e na defensiva, o fazendo ir embora sem comida, fazendo com que a situação seja resolvida pelo dialogo, sem necessidade do uso da violência e ao mesmo tempo tirando a falsa sensação de que os humanos são mais espertos que os animais. Sendo assim a literatura mais uma vez fictícia e criadora de fantasias, imagens e símbolos.

    Referências:

    - livro "Primeiras Estórias", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 1988, pág. 13 (conto Famigerado)
    - “História de uma Guariba” (Alexandre e Outros Heróis)
    - A LITERATURA E A FORMAÇÃO DO HOMEM, Antônio Candido.

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  6. Stella Ferreira Leite

    O Livro “Casos de Romualdo” de João Simões Lopes Neto e “Histórias de Alexandre”, de Graciliano Ramos são obras que possuem diversos contos inseridos nelas, os quais, de forma geral, retratam histórias cotidianas dos povos de cidades interioranas, evidenciando seus costumes e modos.
    O conto “O papagaio” em “Casos de Romualdo”, conta a história do papagaio amarelo, chamado Lorota, que repetia as frases que eram ditas na missa celebrada pelo padre Bento de São Bento. E a frase que ele mais dizia era: “Ore por nós”. É interessante entender aqui a ideia de regionalismo, onde o papagaio fala aquilo que é relacionado ao mundo em que vive, carregado de ideias, modos e crenças próprias, no caso a ligação à tradição religiosa católica. Mesmo após a morte do padre, o papagaio ainda tem em sua memória toda a ladainha, chegando até mesmo a conduzir outros papagaios a repetir as falas. Isso se remete a sua liberdade, mas sempre ligada a sua vivência, ao seu padrão de vida.
    O conto “Um Papagaio Falador” em “Alexandre e outros heróis”, conta a história de um papagaio que foi comprado por Alexandre e Cesária, que vivia preso em uma gaiola, onde pode-se perceber a falta de liberdade, já que sua antiga dona o fazia obedecê-la mandando-o se calar como em: “-Cale a boca. Deixa tomar confiança com quem tu não conheces. “Quando tal papagaio é trocado de dono, no caso quando é comprado por Alexandre, ele continua sendo um papagaio preso em suas culturas, sendo então altamente submisso.
    Os dois contos explicados se assemelham na temática, que é sobre o papagaio, mas se diferem na forma como conduzem esses personagens, no caso a questão da liberdade. Enquanto que no conto de Graciliano Ramos há uma história contada por Alexandre e Cesária a respeito do papagaio e de suas tradições.
    No capítulo “Regionalismo e Regionalidade: trajetória de uma pesquisadora brasileira no diálogo com pesquisadores europeus e convite a novas aventuras” o conceito de regionalidade e região é interessante para definir esses dois contos, como nas citações: “A região não seria apenas um lugar fisicamente localizável no mapa de um país...” e “A regionalidade seria, portanto, resultante da determinação como região ou província, de um espaço, ao mesmo tempo vivido e subjetivo.” De acordo com essas definições, é possível enxergar nos contos essa questão do espaço que ao mesmo tempo traz uma vivência dos próprios autores e uma subjetividade acerca de um lugar vivido que remete a tradição do lugar de origem, como em “O Papagaio” em que o personagem apesar de livre em suas escolhas, como o fato de imitar o padre e os fiéis por vontade própria. Está sob os ideais da tradição local. Em “O Papagaio falador”, o personagem que também é um papagaio, está sempre preso em uma gaiola e obedecendo os cuidados de seus devidos donos, mesmo quando se troca de dono, portanto ele não parece possuir muitas iniciativas, pois parece ter se acostumado aos cuidados em sua origem.
    A questão é que por mais que haja um acontecimento que se difere do anterior ou a mudança de um espaço físico; a cultura, a tradição e as crenças sempre são levadas no pensamento, e nas lembranças do ser, mesmo que direta ou indiretamente.

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  7. Bruno Henrique Xavier da Trindade

    Proposta 3

    Dentre as duas designações, a literatura também é um campo de conhecimento. Um conhecimento por vezes ficcional, por vezes realista, ou amparado por devaneios. Qualquer que seja o seu viés de apresentação, a literatura estará sempre baseada na realidade. Talvez, o seu caráter de ficção traga a falsa impressão de que o literário está distante da realidade. Porém, ocorre o contrário. A literatura representa e é parte inerente do real.

    Para discutir de forma mais aprofundada essa questão, Antônio Cândido apresenta, em uma palestra, algumas variações sobre "a função humanizadora da literatura, isto é, sobre a capacidade que ela tem de confirmar a humanidade do homem." (pág 77).

    E essa humanidade do homem é retratada no conto "Famigerado", de Guimarães Rosa. O narrador encontra-se diante de uma "autoridade", dotada de força, e sem nenhuma chance de defesa. Para se safar, ele evita o conflito, aproveitando-se do significado da palavra famigerado (que também pode ter caráter positivo) e consegue até ganhar o respeito do assassino que veio até a sua porta. A narrativa apresenta uma situação mundana de relações de poder, de realidade social, da diversidade de significados que a língua pode ter, etc., tudo apresentado pelo viés literário.

    "(...) Há no estudo da obra literária um momento analítico, se quiserem de cunho científico, que precisa deixar em suspenso problemas relativos ao autor, ao valor, à atuação psíquica e social, afim de reforçar uma concentração necessária na obra como objeto de conhecimento; e há um momento crítico, que indaga sobre a validade da obra e sua função como síntese e projeção da experiência humana" (CÂNDIDO, pg. 80)

    Conforme Antônio Cândido, a literatura, assim como a realidade, tem a necessidade da ficção, da fantasia e dos elementos contextuais. Na obra "O Pintor de Retratos", de Luiz Antônio de Assis Brasil, temos uma história de caráter ficcional, onde o personagem principal, Sandro Lanari, tem a sua trajetória de vida retratada. Como pano de fundo, até para dar verossimilhança à estória, o autor insere o contexto histórico e social da época em que os fatos ocorrem. O escritor personifica o fotógrafo francês Nadar (Félix Tournachon); fala sobre a chegada da arte moderna e da crise da representação da pintura com o advento da fotografia, etc...

    Em "Dom Casmurro", de Machado de Assis, Bentinho relembra sua história para contar-nos sobre uma suposta traição de Capitu. Por trás disso, está a discussão de temas corriqueiros como o amor, o ciúme, a questão da memória, a determinação dos pais em escolher a profissão dos filhos (a mãe de Bentinho fizera uma promessa de que ele se tornaria padre), etc..., sem deixar de retratar a sociedade carioca da época em que a história se passa.

    Antônio Cândido afirma que a literatura busca satisfazer a necessidade universal da fantasia e contribuir para a formação da personalidade. "(...) A obra literária significa um tipo de elaboração das sugestões da personalidade e do mundo que possui autonomia de significado; mas que esta autonomia não a desliga das suas fontes de inspiração do real, nem anula a sua capacidade de atuar sobre." (pág. 85)

    No texto "Que significa literatura contemporânea", de Karl Eric Schollhammer (texto presente no livro "Ficção Brasileira Contemporânea"), o autor também ressalta que o foco subjetivo de uma história ficcional não afasta a função social da literatura de retratar a realidade e, ao mesmo tempo, fazer parte dela. "(...) O escritor que opta por ressaltar a experiência subjetiva não ignora a turbulência do contexto social e histórico." (pág. 15)

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  8. Proposta 1

    Vânia Caldonceli Coimbra

    Os contos “Entre Bugios”, de João Simões Lopes Neto, e “História de uma Guariba”, de Graciliano Ramos, são obras nas quais podemos apreender um sentimento de identidade regional que não necessariamente as distanciam, mas as aproximam.
    As duas estórias trabalham o imaginário popular e se originam da narrativa popular. Na sua temática as obras são muito parecidas. Em “Entre Bugios”, por exemplo, João Simões conta a estória de um fazendeiro gaucho que, pensando em tirar proveito da escassez de mandioca provocada pela seca no Nordeste, decide produzir farinha de pinhão. A mandioca, embora seja consumida em todo território nacional, é mais utilizada na culinária Nordestina. O pinhão, por sua vez, é um fruto comum no Sul. Para que seu projeto tenha sucesso, Romualdo, personagem narrador, decide empregar bugios como mão de obra. Romualdo vale-se da habilidade que os bugios têm de aprender através da imitação. Bugio é uma espécie de macaco da família Atelidae. Eles são encontrados em todo o território nacional e são conhecidos também por guariba ou barbado. “Pinhões, havia, às centenas de carretas...” “... mas também havia muito bugio...”
    No conto de Graciliano Ramos, Alexandre, o narrador da estória, também está lidando com essa mesma espécie de macacos. Só que no nordeste de Graciliano, esses macacos recebem o nome de guariba. Alexandre sai num domingo para caçar, mas como não encontra animal algum e se sente abatido pelo calor, ele decide descansar. “Como o calor apertasse, tirei o aio, o chapéu, gibão e o guarda-peito, estirei-me no chão...” Ele ouve um gritinho e vê que se trata de uma guariba. Ele então decide caça-la. Mas o calor o desnorteia e quando ele volta ao lugar de descanso, percebe que seus pertences haviam sumido. Eles tinham sido levados pela guariba.
    Nos dois contos podemos perceber também uma característica muito comum em lendas e mitos populares, que é a humanização dos animais. No conto de Simões, os macacos não só são capazes de se organizarem em grupos, como também possuem o dom da fala. “Voltei-me, e qual o meu espanto, dando de cara com um bugio, que ria-se e dizia – mua! mua!” Que seria uma forma reduzida do nome Romualdo. No conto de Graciliano, por sua vez, a guariba não só fala “Seu Alexandre, vamos fazer um negocio?”, como também fuma.
    Embora os dois autores se inspirem em narrativas populares, o conto de Graciliano Ramos é mais elaborado e acabado. Ele se preocupa mais com as descrições da paisagem e também com o estado de espírito de seus personagens. Alexandre “sentia-me bem triste, meus amigos, bem desanimado”, quando saiu para caçar. João Simões tem um estilo mais econômico no que se refere às descrições, através de diálogos, ele incorpora às suas narrativas a linguagem oral do povo gaucho dando uma cor local à sua estória. “Olhei, e por entre as ramarias lobriguei um vulto amarelo-vermelho, levei a arma à cara, fiz pontaria, e ia desfechar...”.
    Aos se apropriar de narrativas populares semelhantes, como “Entre Bugios” e “História de uma Guariba”, os dois autores as reinterpretam e reformulam, incorporando a elas elementos da natureza, envolvendo também animais, objetos, tipos humanos e a linguagem de suas respectivas regiões.

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  9. Proposta #3

    Segundo Antonio Candido no ensaio “A literatura e a formação do homem” a literatura teria, basicamente, três funções: satisfazer à necessidade universal de fantasia, contribuir para a formação da personalidade do indivíduo e representar uma dada realidade social e humana. Funcionaria, portanto, como um mecanismo de conhecimento do ser e da sociedade como um todo.
    Ao analisar a literatura sob o viés humanizador, impossível não mencionar o regionalismo como o método literário que melhor representa e simultaneamente integra essa chamada realidade social. Entretanto, ao mesmo tempo em que obras de caráter regionalista podem enaltecer a cultura rústica, numa tentativa de trazer ao centro, o marginalizado, por meio de um aprimoramento de linguagem que dificulta inclusive a diferenciação entre o regional e universal. Por outro lado, podem marginalizá-la ainda mais, quando, de uma maneira falseada, tentam acentuar características superficiais que expressem as peculiaridades da linguagem local.
    No ensaio mencionado, Antonio Candido cita Guimarães Rosa e João Simões Lopes Neto como exemplos de autores que se esmeraram tanto na produção de suas obras que possibilitam ao leitor uma imersão literária, é possível sentir-se parte do lugar referenciado nas ‘estórias’.
    “O universo do homem rústico é trazido para a esfera do civilizado. O leitor, nivelado ao personagem pela comunidade do meio expressivo, se sente participante de uma humanidade que é a sua, e, deste modo, pronto para incorporar à sua experiência humana mais profunda o que o escritor lhe oferece como visão da realidade.” (CANDIDO, p.92).

    Anna Célia

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  10. continuando proposta #3

    Percebe-se no conto “Famigerado” de Guimarães Rosa, o quanto pode ser excludente o desconhecimento da norma culta. O jagunço percorre léguas a procura de alguém que pudesse descrever o significado da palavra que intitula a ‘estória’, uma vez que não havia ninguém pelo caminho que tivesse “o legítimo- o livro que aprende as palavras...” (ROSA, p.15). A ironia está em registrar como o conhecimento do significado torna-se essencial para o sertanejo. Caso ele tomasse ciência de uma possível atribuição negativa, o conto teria outro desfecho, provavelmente mais violento.
    Observa-se no conto “Entre Bugios” de João Simões, a imagem do homem rústico que apesar de totalmente ambientado no cenário do campo, é dotado de esperteza e visão empreendedora: “Eu estava dentro dos pinheirais: tive uma idéia, isto é, tive uma pilha de idéias, porém uma prevaleceu: em três tempos montei um engenho e comecei a fabricar farinha de pinhão.” (NETO, p.58). Nota-se facilmente também como o narrador-personagem insinua que o acesso à linguagem é uma questão de aprendizado e ele exemplifica no conto quando um dos bugios o reconhece na floresta e o chama: “mual, mual” referência a Romualdo, nome do protagonista. Apreende-se a partir das experiências desse personagem que o que faz dos homens seres sociais é a comunicação: “O lugar onde ela -a macaca- estava era uma espécie de rancho, mal feito, é verdade, mas mostrando já alguma civilização...” (NETO, p.60).
    Nesse sentido estabelece-se uma analogia entre os dois contos acerca da utilização da linguagem quanto à inserção ou exclusão social e quanto à hierarquização de relevância entre a cultura metropolitana e a sertaneja. Nos dois casos vê-se que o conhecimento linguístico torna-se determinante para afirmar-se como indivíduo e ser reconhecido como tal. Ambos os autores demonstram através de seus personagens, que o fato de estes estarem distantes da linguagem culta e do meio urbano não os faz inferiores, mas sim o contrário. Destacam características como simplicidade, rudez, coragem, astúcia e as coloca em um plano em que são tão positivas quanto às aclamadas no meio acadêmico.
    Nesse ínterim, conclui-se a necessidade de autores como Guimarães Rosa, João Simões Lopes Neto, entre outros para compreender melhor essas ‘regionalidades’ que se olhadas mais atenciosamente, tornam-se mais relevantes pelas ‘universalidades’ que pelas ‘peculiaridades’. Como disse o famigerado autor em “Grande sertão:veredas”: “O sertão é o mundo”, assim como Romualdo, Damázio ,Riobaldo, Diadorim somos todos nós.

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  11. Constance von Krüger de Alcântara e Silva

    Proposta 3

    (primeira parte)

    Em seu ensaio “A literatura e a formação do homem”, Antônio Cândido discute a questão da produção ficcional conhecida como “Regionalismo” e seu papel como formadora (ou não) de um conhecimento. Inicialmente, questiona a função da literatura (como um todo) na sociedade e se há, e em que medida, responsabilidade na modelação da cultura em que está inserida. Interessa notar que Cândido estabelece um paralelo (de oposições) entre o que chama de “literatura regionalista humanizadora” e o que chama de “literatura regionalista alienadora”. Neste último caso, cita o exemplo de Coelho Neto que, em sua escrita regionalista, criava um papel de narrador possuidor do conhecimento e da “linguagem erudita” ao conceber que a fala dos regionais seria a diferente – e assim registrá-la de forma caricatural e até pejorativa. A mistura das linguagens, a que Cândido chama de “centauro estilístico” (p. 87), seria denunciadora dessa dicotomia hierarquizante entre a fala do “civilizado” e a fala do regional, do “bárbaro”. Em contraponto, Cândido cita a produção de Simões Lopes Neto que, em sua escrita regionalista, preza pela isonomia entre a linguagem daquele que narra, dos personagens urbanos e dos personagens rurais – o que os diferencia é, no máximo, a escolha léxica, e não uma mudança estilística para diminuir ou menosprezar o falar popular.


    “Não há como que as grandezas machas de uma pessoa instruída”. A citação, retirada do conto “Famigerado”, de Guimarães Rosa (pertencente ao livro Primeiras Estórias), funciona como metalinguagem ao tratar – em um texto literário que se classifica como um “regionalismo humanizador” (expressão de Antônio Cândido) – do tema do conhecimento e da formação/instrução. A trama do conto baseia-se na história de um homem “bronco” que, ao ser chamado de “famigerado”, procura, na figura do narrador-personagem, esclarecimento sobre o significado do termo. A figura desse narrador-personagem, homem de maior conhecimento e instrução, corrobora a noção de Antônio Cândido de que, ao evitar a dualidade entre um narrador alheio à narrativa (e dono da linguagem culta ou erudita) e personagens (des)caracterizados por meio de uma reprodução caricaturizada de seu falar regional, o autor consegue produzir uma obra que seja honesta, respeitosa e humanizante em relação a qualquer realidade local. Ainda que, no caso de “Famigerado”, o narrador-personagem seja o possuidor do conhecimento/do saber, não há discriminação, no momento da escrita, dos falares dos personagens que não possuem essa formação. Assim, há uma função de retrato social e até documentação da realidade regional, sem o viés alienador ou “esquizofrênico”, de que fala Antônio Cândido.

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  12. Constance von Krüger de Alcântara e Silva

    Proposta 3

    (segunda parte)

    Retirado, também, de Primeiras Estórias, o conto “Fatalidade”, de Guimarães Rosa, serve como exemplo a esse caráter funcional da literatura. Partindo do pressuposto que toda a produção de Rosa é naturalmente humanizadora (e não caricatural ou alienadora ou preconceituosa), podem-se encontrar aspectos, nesse conto, que corroboram essa noção pragmática de utilidade. Nesse enredo, conta-se a história de um “homenzinho” que aparece na casa de um amigo do narrador (“Meu Amigo”) e, a partir daí, são desencadeadas situações que culminam, ao final, com a morte de um terceiro personagem (em um assassinato à queima-roupa) e a banalização desse fato, que pode ser verificada na citação a seguir:
    “Sem repiques nem rebates, providenciava a remoção do Herculinão, com presteza, para sua competente cova. E convidava-nos a almoçar, ao Zé Centeralfe, principalmente. Meditava, o Meu Amigo. Disse: – Esta nossa Terra é inabitada. Prova-se, isto... “– pontuante.” (ROSA, João Guimarães. Primeiras Estórias. Editora: LJOE. 8ª edição. Rio de Janeiro, 1975 – página 63).


    Interessa apontar que, em toda a trama, aparecem elementos que se mostram típicos da região retratada (como a naturalidade no manejo das armas, a tradição do homem que mata sem culpa, a figura do sábio/conselheiro que é consultado, dentre outros), mas, em momento algum há, na linguagem, variações estilísticas de caráter ideológico (entre o que diz o narrador e o que dizem os personagens, por exemplo). Por mais que haja mudança no tom ou na escolha vocabular, há um respeito à forma de que falam os personagens retratados. Essa unidade se deve, também, ao fato de o narrador se inserir, generosamente – e de maneira coerente –, no contexto regional da narrativa.


    Conclui-se, portanto, que toda literatura regionalista que pretende contribuir para uma leitura do quadro social que registra deve, forçosamente, respeitar a cultura local – e isso inclui o registro da fala, como argumenta e teoriza Antônio Cândido. Do contrário, a imagem da região fica caricaturizada e aliena os leitores da realidade de que se trata: presta, assim, um desfavor a essa cultura.


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  13. Danielle Alves da Silva

    REESCRITA PROPOSTA 3:

    É visto que ao longo dos anos os estudos literários se subdividiram em duas vertentes. A primeira delas estuda a Literatura como um resultado da linguagem humana, ou seja, para esses estudiosos a Literatura não é influenciada por nenhum produto externo e sim construída metodicamente através de uma estrutura linguística. A outra vertente diz respeito à Literatura como uma expressão sociocultural do homem em seu espaço e tempo, passando a ser algo que não só exprime o homem, mas também trabalha na formação dele.
    Antonio Candido em “A Literatura e a formação do homem” demonstra como essa segunda perspectiva pode ser compreendida. Para o autor muito além de um sistema de construção linguística a Literatura passa a ser uma construção social que auxilia na formação do homem. Interligada diretamente com valores ideológicos e sociais de um dado período histórico a Literatura visa refletir algo em alguém. Assim um dos papeis exercidos pela Literatura é de levar o leitor a criar uma interação com texto a ponto de formar uma identificação que levará o leitor a formar uma nova visão de mundo.
    Sendo assim a Literatura faz uso da realidade humana para formar conhecimentos que personalizam o homem. Para melhor compreender essa relação Candido focaliza a questão do uso do regionalismo na Literatura, para o autor a linguagem utilizada na obra acaba gerando uma identidade que permite ao leitor criar uma identificação com um dado personagem e sua posição na sociedade. Esta identificação permite que o leitor visualize uma realidade representada na Literatura e a compare com a realidade por ele vivida na sociedade, modificando assim sua postura de ser humano diante do mundo novo que passa a ser por ele percebido.
    A exemplo cito o conto “Famigerado” de Guimarães Rosa, nele o autor cria um narrador fictício em primeira pessoa que faz uma relação do uso do poder linguístico entre uma pessoa instruída e outra leiga. O conto mostra como o conhecimento linguístico pôde apaziguar um conflito, no entanto mesmo o narrador sendo uma pessoa instruída faz uso de uma linguagem coloquial com termos regionais como “tropel”, “embolado” e “desbaratado” e isso transmite para o leitor da obra a ideia do narrador fictício estar mais próximo da personagem pouco instruída formando uma postura mais humanizadora deste narrador. O autor consegue assim trazer o universo linguístico de um homem rústico para o leitor proporcionando para ele uma visão de mundo nova em que mesmo sendo o homem um ser rústico o saber linguístico e a forma de lidar com este saber pode ser o ponto principal para trazer a paz e evitar conflitos sociais.
    Outra obra em que o regionalismo é bastante explorado é “ Auto da compadecida” de Ariano Suassuna. Nesta obra a linguagem é fortemente marcada pelos vocábulos e linguagem oral da região nordeste do Brasil, misturando tradição religiosa e cultura popular o conto usa do auxilio da linguagem para caracterizar suas personagens.
    A diferença fica perceptível em seus registros de fala, a personagem como o Bispo faz uso de uma linguagem mais culta com presença de até mesmo de termos em Latim, enquanto que personagens como Chico e João Grilo usam uma linguagem mais rústica. Porém todas as personagens da obra fazem uso de uma linguagem bastante coloquial e oral traduzindo uma realidade histórica e social da região nordeste. Cria assim a identidade de um povo que possui hábitos, costumes e linguagens próprias que os ajuda a lidar com percalços da vida que são próprios deste mundo nordestino.
    A linguagem nos dois exemplos acima age como meio especifico de comunicação entre o autor e o leitor expressando um mundo novo, com vivência histórica, social e cultural única e diferenciada. O texto passa a ser não somente o produto de uma cultura para ir além e se tornar produtor de um novo modo de ver o mundo diante de outra realidade, desestabilizando o leitor ao dar a visão de algo novo em sua vida.

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  14. A Literatura vista desta forma permite que o leitor entre em contato com um contexto social e histórico especifico, juntamente com isso ao impor suas experiências pessoais de vida começa a criar novos conhecimentos e a Literatura passa a ter um caráter transformador na vida de cada leitor. Amplia-se a visão de mundo e a postura desse leitor passa a ser outra diante da realidade social em que esta inserida, a ficção de uma obra não só recria uma realidade como também recria uma nova postura deste homem leitor na sociedade.
    A função da literatura passa a ser a de desalienação do homem. Sendo que e é dá representação da identidade de um povo com sua linguagem, conflitos, traços históricos e sociais que surge a conscientização e a nova postura deste homem na sociedade. Daí nasce a ideia de literatura como meio de formação do homem.

    BIBLIOGRAFIA:

    CANDIDO, Antonio. A Literatura e a formação do homem. Textos de intervenção, Ed. 34, 2002. SP pg 77 a 92.

    ROSA, Guimarães. Famigerados.Texto extraído do livro "Primeiras Estórias", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 1988, pág. 13.

    SUASSUNA, Ariano. Auto da Compadecida. 34 ed./3ª imp. Rio de Janeiro.ED.: Agir, 1999.

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  15. Proposta 2:
    Luiza Arantes de Lima
    João Simões de Lopes Neto, em seu conto “A Salamanca do Jarau”, utiliza-se da lenda de mesmo nome para transportá-la à cultura sul-rio-grandense. Desta forma, o autor faz uso de uma personagem principal: Blau Nunes. Esta personagem possui arquétipos de um típico gaúcho e será descrito com uma peculiar linguagem da região: “(...)um gaúcho pobre, Blau, de nome, guasca de bom porte, mas que só tinha de seu um cavalo gordo, o facão afiado e as estradas reais, estava conchavado de posteiro, ali na entrada do rincão; e nesse dia andava campeando um boi barroso.(...)” (NETO, 19??, p. 2). Blau, que é uma figura recorrente nos “Contos Gauchescos”, de João Simões, é responsável por narrar grande parte das histórias, mas além disso é o personagem que presencia os acontecimentos narrados, transitando desta forma, entre o universo mítico das lendas e o real espaço geográfico gaúcho. Blau Nunes, além de um simples narrador é aquele que dá voz aos contos, transita no presente, mas também nos leva ao passado. Ao recordar o testemunho de sua avó, Blau nos aproxima da lenda da Salamanca, como se estivéssemos escutando um causo contado por um parente próximo. Através dessas oscilações entre o passado e o presente, entre o mítico e o real, entre o sagrado e o profano, este personagem vai alinhavando toda a trama do conto de modo a dar uma unidade ao texto e criar uma proximidade com o leitor.
    Sobre a apropriação da lenda feita por João Simões, e a unidade criada pelo autor, Marli Cristina Tasca Marangoni, da USC, diz: “ ( O trabalho simoniano de invenção constituí o suporte que confere unidade à narrativa, acreditando que, assim como foi redigida por Simões Lopes Neto, “ A Salamanca do Jarau”, não é, propriamente, uma lenda, e tampouco uma versão da mesma, mas um conto cuja estrutura narrativa se apropria da lenda(...)”. (MARANGONI, 2007).
    Sendo assim, podemos concluir que João Simões de Lopes Neto, ao utilizar uma linguagem plena de termos e expressões que nos remetem ao universo gauchesco, ao apresentar um narrador-personagem que possui conflitos pessoais relacionados ao trabalho na terra, ao cuidado com a criação, à virilidade e ao heroísmo de um vaqueiro gaúcho, cria uma atmosfera capaz de transportar o leitor para o universo sob o qual a história irá perpassar. Esta preocupação com a linguagem e estabelecimento do espaço geográfico é recorrente no texto, como podemos notar na passagem:
    “Gaúcho valente que era dantes, ainda era valente, agora; mas, quando cruzava o facão com qualquer paisano, o ferro da sua mão ia mermando e o do contrário o lanhava... Domador destorcido e parador, que por só pabulagem gostava de paletear, ainda era domador, agora; mas, quando gineteava mais folheiro, às vezes, num redepente, era volteado... De mão feliz para plantar, que lhe não chochava semente nem muda de raiz se perdia, ainda era plantador, agora; mas, quando a semeadura ia apontando da terra, dava a praga em toda, tanta, que benzedura não vencia...;(...)” ( NETO, 19??, p. 3).

    Após ter sido apresentado este universo o autor nos apresenta o outro contraponto, responsável por guiar a história que será a lenda em si. Apresentada, nesse caso, pela figura mítica do temido Sacristão, que a partir de seu testemunho nos conta uma versão da lenda não conhecida até então. Ao utilizar de tais artifícios, Lopes Neto traz uma nova roupagem para a lenda “A Salamanca do Jarau” que alcançará a sua unidade através da figura de Blau Nunes que, como já dito antes, será o responsável por presenciar todos os acontecimentos. Sem a presença de Blau Nunes provavelmente tal história seria apenas mais uma lenda.

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  16. PROPOSTA 1

    Nos contos “A figueira”, de João Simões Lopes Neto (1976, p. 49-53), e “A espingarda”, de Graciliano Ramos (1977, p. 82-86), o aspecto mais evidente que os aproxima é o exagero. Os casos se desenvolvem numa construção argumentativa que intenta “provar” que são verdadeiros. Romualdo, de João Simões, direciona seus argumentos ao leitor, que não vê a figueira a que se refere, mas que deve ser convencido de que ela era mesmo muito grande. A árvore era enorme a ponto de sua “sombra [ser] perpétua” (p. 49) e de não filtrar nem “um rastilho de sol, como também nem um pingo de chuva passava para baixo.” (p. 49) Apesar de estar presente nesse conto, o recurso do argumento pela prova fica mais evidente em “A espingarda”. Inicialmente, Alexandre tem a intenção de contar aos seus companheiros o “caso do veado” atingido por “dois caroços de chumbo, um na cabeça, outro no pé direito” a uma distância de “dezessete léguas”, mas o foco do seu discurso é voltado para a eficiência da arma. Os elementos que comprovam o seu alcance são o gibão feito do couro do veado e a distância do monte. “Olhem aquele monte ali na frente. É longe, não é?” (p. 82) Adiante, reforça, “é muita légua, não é?” (p. 84). Tendo comprovado o alcance da arma e a morte do veado, Alexandre pôde, enfim, prosseguir com o intento inicial.
    Depois de avaliar o aspecto do exagero, marcado nas duas narrativas, é pertinente observar que a linguagem utilizada nos dois contos não contém vocabulário essencialmente regional, nem expressões ou passagens que remetem a alguma marca cultural própria do Sul ou do Nordeste brasileiros. O mesmo não acontece em outros contos, como por exemplo “A doença de Alexandre” (RAMOS, 1977), em que aparecem esses dois aspectos. “A princípio era uma gastura, o estômago embrulhado e a vista escurecendo. Botei para o interior a purga de pinhão de Mestre Gaudêncio e a garrafada que Cesária fez. Das Dores rezou uma oração forte.” (p. 94) Embora não se possa dizer que o costume da ingestão de uma “garrafada” ou da “purga de pinhão” seja próprio exclusivamente da região onde se passa o referido caso de Alexandre, estas são marcas da cultura local, que levam o texto ao caráter mais regionalista que não aparece em “A figueira” e em “A espingarda”.

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  17. Daniela Alexandra da Costa Franklin

    Proposta 3

    No ensaio de Antônio Cândido, "A Literatura e a Formação do Homem" é trazido ao leitor a consciência de que a nossa literatura é empenhada e contribui para a identidade de uma nação.
    Cândido também menciona que a literatura é antimercadoria, pois não se usa e joga fora, pelo contrário, leva-se para a vida toda. Ela também é inesgotável ,favorecendo o alargamento da linguagem.
    Percebemos essas características na obra de Guimarães Rosa, ao criar novas palavras para seus contos, em função de suas expressões e sentidos. Para Rosa a arte não precisa seguir de acordo com a realidade, basta que cause a sensação de rompimento com o esperado.
    Percebemos que ele não cai na ideologia da felicidade na pobreza, pelo contrário ela não é bonita e não é boa de se viver.Em sua obra existe uma perspectiva que mostra a beleza, mas também existe a perspectiva de erros e dos problemas do sertão, o escritor não deixa de problematiza-los.
    Percebemos também que nem sempre a literatura é confortável, ela tem a principal função de conduzir o leitor à reflexão. E é assim na obra roseana, ela aproxima o leitor do objeto da ficção.

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  18. PROPOSTA 03

    Tomado como base o ensaio de Antonio Candido “A literatura e a formação do homem”, e os textos de Guimarães Rosa, “Famigerado” e “Campo Geral”, mostramos como o regionalismo presente nas obras literárias tem fator preponderante na função social do homem.

    Antônio Candido em “A literatura e a formação do homem” diz, que a ficção tem sempre um pape psicológico e ao tratar esse papel, automaticamente retrata a necessidade de contar e ouvir histórias, que esta presente em qualquer sociedade. Essas histórias tomam sempre o real como referencia. Guimarães Rosa quase sempre tomava com referencia o sertão mineiro.

    Tanto nas leituras feitas de Famigerado quanto de Campo Geral, fazem com que o leitor faça reflexões éticas, avaliações de condutas e desenvolvimento de imaginação. Essas reflexões, avaliações podemos perceber nas duas obras citadas como por exemplo em Campo Geral quando Miguilim se recusa a entregar a carta que seu Tio pediu que ele a entregasse a sua mãe, nesta passagem podemos ter uma reflexão sobre ética e condutas na sociedade. Ou então podemos ter nossa imaginação desenvolvida na figura do jagunço de Famigerado, quando ele vai de encontro ao médico pedir para que ele lhe diga o que significa a palavra “famigerado”. Entre outros exemplos. Essas comparações são vistas como uma forma de tornar as pessoas melhores, sendo então essa a função social/humanizadora da literatura.

    Pensando na função social e no regionalismo incluído nessa função, Antonio Candido diz:

    “podemos abordar o problema da função da literatura como representação
    de uma dada realidade social e humana, que faculta maior inteligibilidade
    com relação a esta realidade. Para isso, vejamos um único exemplo de relação das
    obras literárias com a realidade concreta: o regionalismo brasileiro, que por definição
    é cheio de realidade documentária.” ( CANDIDO, 1999. p86)

    Sendo assim as duas obras, que podemos chamar de super-regionalismo, trazem nas vozes de seus personagens a função humanizadora, vozes essas que são representativas para o homem rural. Que através dos textos literários ultrapassa os limites de suas regiões, fazendo com que suas vozes possam ser ouvidas independente do que espaço em que é lida. Além de tudo faz com que o leitor pare para pensar em um contexto social que não seja somente o que vive.


    Referência:

    CANDIDO, Antonio. A literatura e a formação do homem. In: Remate de males. Número Especial Antonio Candido. Campinas: Departamento de Teoria Literária IEL Unicamp, 1999.

    TRAVASSOS, Thais. Guimarães Rosa e a função social humanizadora da literatura. In: Desmedida – Revista de Pos Graduação em Literatura da UNITAU. VOl. 1 Nº 1 Taubate-SP

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