terça-feira, 4 de setembro de 2018

A abordagem da identidade nacional

As reflexões apresentadas por Sandra Jatahy Pesavento são muito importantes para pensarmos a construção da identidade nacional em relação aos demais países da América Hispânica, bem como a visão sobre a nossa cultura como vinculada à América Latina.
Com base em fragmentos do ensaio da historiadora, elabore um comentário sobre o imaginário que se forma com base nesse distanciamento, confrontando com a obra O Uraguai, de Basílio da Gama. Essa obra é importante especialmente pelo fato de abordar a história da região que mais se aproxima do que seria uma visão comum, mesmo inserida em um contexto de enfrentamento, visto que narra as lutas dos índios dos Sete Povos das Missões com os exércitos portugueses e espanhóis e que, supostamente, nos coloca em uma situação de pertencimento ao Novo Mundo.
Procure utilizar fragmentos da obra literária para selecionar algum elemento que sustente sua leitura a partir desse imaginário de pertencimento a uma nação e/ou identidade cultural. Por que será que não nos vemos claramente dentro de uma história latino-americana? E porque também temos uma dificuldade em  nos percebermos claramente como mestiços, sendo essa denominação sempre [ou quase sempre] tida como negativa ou menos prestigiada no nosso meio?

"Em suma, nossa ideia é de que os brasileiros têm vivido de costas para a América Latina, e a construção imaginária de um 'pertencimento' ou de uma identidade nacional não passa pelo endosso de uma aceitação de latino-americanidade. Mais do que isso, na correspondência entre 'nós' e os 'outros', a América Latina chega a se configurar como o 'outro' não-explícito, não-verbalizado e muito pouco pensado. Radicalizando, ousaríamos afirmar até que os brasileiros 'não gostam' de ser identificados como latino-americanos." (p. 18)

"A indagação de Bolívar e Sarmiento para a Hispano-América - o que somos? - tinha como referencial a mestiçagem, vista como virtualidade de libertação. No Brasil de herança lusa, o coletivo não engloba os dominados nem pressupõe interação social. Aponta-se para o Brasil que se quer, e não para o Brasil que se tem, princípio que se tornaria ainda mais claro na geração seguinte, imbuída de preocupações realistas e cientificistas.
A chamada 'geração de 70' expressou, no final do século XIX, um novo pensar em termos nacionais.
Imbuída das teorias de Darwin, Spencer, Comte, Taine, Renan, esta geração buscava o universal de forma explícita, assumindo um cosmopolitismo declarado: o Brasil deveria acertar o passo com a história, ingressando na modernidade de seu tempo. A Europa fornecia o padrão de refinamento civilizatório e de patamar cultural. Dela vinham as ideias, a moda, as novas técnicas, e o Brasil precisava acompanhar o trem da história, nem que fosse no último vagão... A alteridade estava posta de forma inquestionável: ela estava do outro lado do oceano, onde o Brasil buscava os seus padrões de referência e colocava o seu horizonte." (p. 26-27).

PESAVENTO, Sandra Jatahy. Contribuição da história e da literatura para a construção do cidadão: a abordagem da identidade nacional. In: LEENHARDT, Jacques; PESAVENTO, Sandra Jatahy. Discurso histórico e narrativa literária. Campinas: Unicamp, 1998.


13 comentários:

  1. A obra O Uraguai de Basílio da Gama, aborda o contexto das batalhas entre índios e europeus pela região das Missões. O autor coloca os indígenas na posição de "fantoches", sendo influenciados e comandados pelos padres jesuítas, lutando uma guerra que não entendiam, como ilustra a passagem:"E os padres os incitam e acompanham./Que, à sua discrição, só eles podem/Aqui mover ou sossegar a guerra." Do outro lado da batalha, estão os europeus (portugueses e espanhóis unidos para acabar com a rebelião que questiona a sua vontade), que, segundo a narrativa, não querem usar da força contra os indígenas, como se pode ver no trecho em que, ao ser aconselhado por um dos seus, o General europeu reponde: "Tentem-se os meios/De brandura e de amor; se isto não basta,/Farei a meu pesar o último esforço." Apesar da argumentação dos dois lados, as batalhas acontecem, e os índios são derrotados.
    Enquanto os países hispânicos que cercavam o Brasil faziam questão de expor e exaltar a sua condição étnico-racial, constituindo, com base no que eram naquele momento, identidades nacionais concretas, que representavam o povo, a colônia portuguesa que existia na América pensava somente no futuro, em como gostaria de estar amanhã, ignorando o que possuía e o que era no presente. A condição de mestiçagem do povo brasileiro, ao contrário dos outros países do continente, era vista como uma ... que deveria ser superada, tendo em vista sempre o Brasil ideal. Este Brasil ideal era, claro, o mais próximo possível dos impérios europeus: culto, rico e desenvolvido. E neste mundo imaginário, não havia lugar para mestiços. Era preciso ser um povo puro, como os povos europeus eram.

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    2. Na obra de José Basílio Gama, O Uraguai, que é considerado um poema épico de 1769, percebe-se que o objetivo da obra é dar ênfase a política do Marquês de Pombal contra os jesuítas. O autor utiliza-se da Guerra Guaranítica, colocando a culpa do massacre indígena nos jesuítas. A obra relata que os jesuítas somente defendiam os direitos dos nativos para ser os sacerdotes seus senhores.
      No canto V do livro O Uraguai, Basílio Gama expressa suas críticas a respeito dos jesuítas, pondo-os como responsáveis pela carnificina dos índios pelas tropas luso-espanholas. Essas opiniões visavam agradar ao Marques de Pombal, influente ministro de D. José I.
      Como é referido no texto de Sandra Jatahy Pesavento, sempre houve um distanciamento com os países vizinhos do Brasil. A autora enfatiza o quanto nós brasileiros temos ignorado a América Latina, e a identidade nacional requer uma aceitação de latino-americanidade para que tenhamos o sentimento de pertencimento à região. Em O Uraguai, o autor com objetivo de colocar Portugal como sendo uma cultura superior à encontrada nos Sete Povos das Missões, para agradar o Marquês, esforça-se para demonstrar que o melhor para o Brasil era ser posto numa situação de pertencimento ao Novo mundo, representado pelos portugueses. Na obra O Uraguai, Basílio Gama faz uma vaga referência ao americanismo, embora deixa claro que o saber do pertencimento à América não afirmava identificação com os outras nações sul-americanas.

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  2. A partir de pesquisa e curiosidades, percebi que podemos encontrar pontos de vista diferentes ao analisar a obra relacionando com o contexto histórico. Assim fazendo uma reflexão sobre as transformações culturais e o perigo de perda cultural e de identidade quando pensado na missão jesuíta com o objetivo de realizar a catequização, no entanto, tinha efeitos colaterais que não interessavam aos conquistadores portugueses.
    Independente do objetivo do poeta, de que instância ou ideologia política o poema presumivelmente estaria a serviço, não devemos nos abster, como investigadores, de procurar verificar as demais leituras que o texto pode compreender.

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  3. O Uraguai, obra escrita por Basílio da Gama, escritor nascido no Brasil mas que posteriormente foi para a Europa.
    Sendo sua criação uma produção de olhar europeu sobre a realidade brasileira, faz crítica aos jesuítas, os quais defendiam os índios apenas pra pertencerem a eles mais tarde, exaltando assim, a política de Marquês de Pombal.
    “Por mim te fala o rei: ouve-me, atende/E verás uma vez nua a verdade./Fez-vos livre o céu, mas se o ser livres/Era viver errantes e dispersos,/Sem companheiros,sem amigos, sempre/Com armas na mão em dura guerra,/Ter por justiça a força, e pelos bosques/Viver do acaso, eu julgo que ainda fora/Melhor a escravidão que a liberdade.” É no poema que fica explícito as intenções de Portugal em relação aos índios do sul do país.
    Após estudar os dois textos, é notório que desde que Portugal chegou em terras brasileiras, não aceitou as características tidas aqui. Um exemplo disso foi a catequização dos indígenas, o trabalho escravo imposto a eles, índias quando davam a luz aos mestiços muitas vezes eram mortas, ou os filhos considerados ruins, filhos da dor, como entre outros exemplos. Queriam colocar seus costumes em uma terra que já possuía os seus, acredito que seja por isso que por vezes os brasileiros falham ao se encontrar, a se conectar com suas raízes, por desde o princípio imporem costumes europeus, já que sempre foi dito o "ideal".
    Mariana Ravaza

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  4. A obra, O Uruguai, poema épico escrito por Basílio da Gama em 1769, de fato cria o cenário mais aproximado, mesmo que de uma época antiga, do que se pode entender como a América Latina, uma só nação. Fica bem evidente, tal constatação, se observarmos o seguinte trecho:
    “... Que do premeditado oculto Império
    Vagamente na Europa se falava... ”
    Entendo que o “premeditado oculto Império” deve se referir a terra em disputa, localizada na América Latina, o que nos aproxima desse imaginário de pertencimento. Em outra passagem da obra, também interpreto da mesma forma:
    “...Já dos olhos o véu tinha rasgado
    A enganada Madri, e ao Novo Mundo...”
    A obra faz várias menções a América latina como uma só nação, o Novo Mundo.
    Por outro lado, trazendo para a atualidade, segundo a autora Sandra Pesavento, este pertencimento se enfraquece na medida em que, segundo ela:
    “Em suma, nossa ideia é de que os brasileiros vivem de costas para a América Latina”..., ou mais do que isso, “... Radicalizando, ousaríamos afirmar até que os brasileiros não gostam de ser identificados como Latino-americanos...”.
    Tais afirmações ajudam a entender e responder por que não nos vemos claramente dentro de uma história latino-americana.
    Ao passo que, nossos vizinhos hispano-americanos têm como referencial básico para sua identidade, a mestiçagem, vista como virtualidade de libertação, o Brasil, de herança lusa, renega sua origem mestiça e não valoriza a coletividade social. Trazendo consigo um principio que aponta para o Brasil que se quer (qualquer semelhança com a propaganda de uma tal emissora de TV, não é mera coincidência), não o Brasil que se tem, principio este, que segundo a autora, se tornaria mais claro na geração de 70, e que ao meu ver, tem reflexos ainda nos dias de hoje.
    No momento que negamos nossa latinidade, não assumimos de fato que somos mestiços por natureza, buscamos padrões de referencia do outro lado do oceano, e enquanto o Brasil que queremos se sobrepor ao Brasil que temos, ou que somos, acabamos nos distanciando cada vez mais do imaginário de pertencimento a uma identidade latino Americana única.
    Eduardo Dutra

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  5. Ler o livro de Basílio da Gama (O Uruguai) e em seguida ler as reflexões apresentadas por Sandra Jatahy Pesavento, é notório que ambos abordam sobre a identidade nacional, mais especificamente as demarcações de fronteiras.
    O livro de Basílio da Gama (O Uruguai) é um poema, que além de contar a expedição do Governador do Rio de Janeiro às Missões Jesuíticas do Sul da América Latina (os Sete Povos do Uruguai), é também um canto de louvor à política de perseguição do Marquês de Pombal aos missionários. Tem dedicatória ao Ministro da Marinha, Mendonça Furtado, irmão de Pombal, que trabalhou na demarcação dos limites setentrionais entre Brasil e América Espanhola, cumprindo o Tratado de Madri (1750), que corrigia a demarcação entre as Américas espanhola e portuguesa, firmada pelo Tordesilhas.
    São exatamente esses litígios de fronteiras, somados ao heroísmo dos índios e a crítica à Companhia de Jesus que dão o tom de "O Uraguai".
    “Preparo curvas balsas e pelotas, / E em uma parte de passar aceno, / Enquanto em outra passo oculto as tropas. / Quase tocava o fim da empresa, quando / Do vosso general um mensageiro / Me afirma que se havia retirado: / A disciplina militar dos índios / Tinha esterilizado aqueles campos. / Que eu também me retire, me aconselha, / Até que o tempo mostre outro caminho. / Irado, não o nego, lhe respondo / Que para trás não sei mover um passo.” (Pág. 15)
    Primeiramente, por que o nome América latina?
    Para diferenciar da América anglo-saxônica, que foram colonizados principalmente por ingleses, que descendem dos antigos invasores germânicos de duas principais tribos, os anglos e os saxões, no século V, d.C, da época da queda de Roma. Por isso o nome "england" que vem de "anglaland" ou " terra dos anglos".
    E o que é ser Latino Americano?
    Historicamente, nosso continente foi submetido a interesses político-econômicos, que desvirtuaram em cada nação o sentimento continental. Somos América Latina porque fomos colonizados pelos Portugueses.
    “A identidade é um processo ao mesmo tempo pessoal e coletivo, onde cada indivíduo se define em relação a um "nós" que, por sua vez, se diferencia dos "outros". A ideia é a de que os brasileiros têm vivido de costas para a América Latina, e a construção imaginária de sua identidade nacional não passa pelo endosso de uma aceitação de latino-americanidade.” (Sandra Jatahy Pesavento - LITERATURA, HISTÓRIA E IDENTIDADE NACIONAL).
    A identidade latino-americana não é consensual entre todos os brasileiros. Diversos fatores históricos, políticos e culturais fizeram com que os cidadãos do país não se enxergassem como integrantes de uma comunidade maior que unifica pessoas de diversas nações em um bloco regional. A própria maneira de denominar a região já foi alvo de diversas controvérsias e o termo América Latina se consolidou apenas no pós-Segunda Guerra Mundial.
    Muitos brasileiros e brasileiras não se enxergam como latino-americanos/as. E por que isso ocorre?
    Tem algumas explicações, a primeira delas é a língua que dificulta a circulação de produtos culturais como música, literatura e cinema. O brasileiro tem dificuldade para entender o espanhol falado por seus vizinhos e por outro lado, nossos vizinhos não entendem o português.
    Outra questão é o afastamento histórico do Estado Brasileiro em relação às republicas latino-americanas, iniciado na independência. O Brasil foi o único país a adotar um regime político monárquico, tendo como imperador um membro da família real portuguesa. Enquanto os outros países do continente, após a independência, enfrentavam guerras civis e conflitos decorrentes da implantação de um novo regime político, o Brasil ostentava uma ideia de ordem social, em que os conflitos eram reprimidos e não ameaçavam o poder constituído. O império brasileiro preferiu desenvolver uma política externa de aproximação com os países europeus e evitar alinhar projetos com seus vizinhos, além de cuidar para que as ideias republicanas fossem afastadas do território brasileiro.
    Shaiane Mathias Dos Passos

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  6. A nossa construção de identidade nacional está sustentada pela ideologia que venceu: A dos Reis portugueses e espanhóis. No momento em que o exército ganha dos índios, a Vitória tambem é cultural, a valorização do europeu e não da terra em que vivem os índios. "A nós toca somente arar e cultivar a terra, sem outra paga mais que o repartido / Por mãos escassas mísero sustento. / Pobres choupanas, e algodoes tecidos, E o arco, e as setas, e as vistosas penas / São nossa fantástica riqueza." Neste fragmento, o interesse dos povos indígenas é o de viver e aproveitar o que é produzido na terra em que vivem, é isso que valorizam, não um rei distante. "Vê que o nome dos reis não nos assusta / O teu está muito longe; e nós índios não temos outro rei mais do que os padres." Os padres eram uma figura importante para eles, e estes viviam com os índios, não eram alguém distante a quem deveriam servir. Quando o exército vence a batalha, toda essa valorização indígena pela própria terra e pela própria gente é vencida, e assume a valorização pelo outro, distante, o rei, o modelo. A construção da nossa identidade nacional passa pela desvalorização de nossa origem e cultura, e valorização por aquilo que vem de fora, culturalmente submissos e envergonhados.

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  7. Uma só palavra ou conceito não seria capaz de abarcar todos os processos e experiências históricas que marcaram a formação da identidade nacional.Esse processo complexo que reúne elementos culturais,históricos,étnicos e sociais tem como ponto determinante o momento em que as populações indígenas entraram em contato com os colonizadores do Velho Continente em meio aos interesses de exploração dos "civilizados" europeus sobre os "selvagens" indígenas.Através da obra O Uraguai,de Basílio da Gama,é possível perceber uma crítica drástica aos jesuítas,que foram os responsáveis por catequizar os indígenas.O autor sustenta que os jesuítas "defendiam" os direitos dos nativos para ser eles seus senhores.O enredo retrata a disputa entre portugueses e espanhóis pelas terras dos Sete Povos das Missões,no RS,e o conflito contra indígenas e jesuítas.Ao fim de tudo,os azarados são mesmo os índios,pois tiveram seu povo envolvido no meio de uma conflituosa disputa de interesses que massacrou o grande líder,Sepé Tiarajú e seu povo.A perplexidade dos indígenas pelo conflito nas suas terras é expressada no seguinte trecho:"As Campinas que vês e a nossa terra/Sem o nosso suor e nossos braços,/De que serve ao teu rei?/Aqui não temos/Nem altas Minas,/Nem caudalosos/Rios de areias de ouro.Com relação à identidade nacional,não temos uma relação de pertencimento com a América Latina,o brasileiro de modo geral,renega demais suas raízes latino americanas,isso é um fato.Indubitavelmente,um dos motivos é porque não falamos o mesmo idioma dos nossos vizinhos.Certamente,o que também dificulta a nossa identificação seja o nosso processo de colonização e independência.A América Latina sempre se associou à colonização espanhola,e isso já gera uma divisão com o passado português do Brasil.Na América Espanhola houve guerras contra a Coroa e o reforço de uma identidade cultural única,enquanto no Brasil, o próprio regente português declarou a independência.Outro aspecto importante é o processo de miscigenação com outros povos que dificulta essa conexão com os demais povos latinos.O conjunto desses elementos que constituem essa equação são responsáveis pelo distanciamento com as nações do nosso continente,e a consequência é evidente:a maioria de nós adora os outros continentes,mas se interessa muito pouco pelo próprio.
    Maurício Machado Gonçalves

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  8. Além do Epitalâmio, escrito à filha do Marquês de Pombal, como forma de exaltá-lo e reafirmar suas ideias iluministas contra os jesuístas, Basílio da Gama escreve o Uraguai, o qual coloca os padres como responsáveis pelo verdadeiro massacre dos índios.
    Essa visão e a crítica feita no último canto ainda se aplicam à realidade de hoje, mesclando-se com o texto de Pesavento. Geralmente vemos pessoas glorificando-se sobre sua origem alemã ou italiana - as mesmas por vezes sabem detalhes da descendência, como cidade e a data em que os ancestrais saíram da Europa. E raramente se vê o mesmo com as outras etnias predominantes no país. A África é um continente enorme, e é raro uma pessoa que lembre sequer o país dos seus ancestrais africanos.
    Não creio que seja o fato de não possuímos identidade brasileira, mas o eurocentrismo é predominante no Brasil, por isso também a falta de identificação com os outros países da América Latina. A evangelização de aldeias indígenas ocorre até hoje, tal como pessoas negras, por vezes, ao frequentarem igrejas com ideias extremistas, renegam a própria ancestralidade e cultura.
    O brasileiro tenta se enxergar o mais europeu possível, pois tais padrões vão desde estética a perfil para sucesso profissional.
    “Eles chegaram. Eles tinham a bíblia, nós tínhamos a terra. Eles nos disseram fechem os olhos e rezem. Quando abrimos os olhos, eles tinham a terra e nós tínhamos a bíblia” frase dita pelo arcebispo anglicano Desmond Tutu, ganhador do prêmio Nobel da Paz por sua luta contra o Apartheid, referindo-se à África, mas cujo contexto também se aplica na América.

    Nickolly da Silva Rosa Nichel Pereira.

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  9. No Épico arcadista, da Gama, ex-padre Jesuíta, como um pedido de desculpas ao futuro Marquês do Pombal (na obra referido como Conde de Oeiras), primeiro-ministro português que pôs fim a influência cultural e os privilégios da Companhia de Jesus em Portugal e nas colônias do império, trata dos guaranis como vitimas de um jugo imposto pelos padres da já mencionada instituição, exalta a bravura dos nativos personificados nas figuras romantizadas, os “selvagens honrados ou de boas práticas” Sepé Tiaraju e Cacambo, ao enfrentar as ordens dos poderosos reis de Portugal e Espanha representados pela autoridade de Antônio Gomes de Andrade que tenta por “boa diplomacia” não derramar sangue. Algo que se evidencia na obra é o autoritarismo dos colonizadores tirando a oportunidade dos locais explorarem suas terras de herança, como expresso no seguinte excerto:

    “[...] O ilustre General: Ó alma grande,
    Digna de combater por melhor causa,
    Vê que te enganam: risca da memória
    Vãs, funestas imagens, que alimentam
    Envelhecidos mal fundados ódios.
    Por mim te fala o rei: ouve-me, atende,
    E verás uma vez nua a verdade.
    Fez-vos livres o céu, mas se o ser livres
    Era viver errantes e dispersos,
    Sem companheiros, sem amigos, sempre
    Com as armas na mão em dura guerra,
    Ter por justiça a força, e pelos bosques
    Viver do acaso, eu julgo que inda fora
    Melhor a escravidão que a liberdade.
    Mas nem a escravidão, nem a miséria
    Quer o benigno rei que o fruto seja
    Da sua proteção. Esse absoluto
    Império ilimitado, que exercitam
    Em vós os padres, como vós, vassalos,
    É império tirânico, que usurpam [...]”

    “O jugo Jesuita” está presente no seguinte trecho:

    “[...] Armados de orações vos põem no campo
    Contra o fero trovão da artilheria,
    Que os muros arrebata; e se contentam
    De ver de longe a guerra: sacrificam,
    Avarentos do seu, o vosso sangue.
    Eu quero à vossa vista despojá-los
    Do tirano domínio destes climas,
    De que a vossa inocência os fez Senhores [...]”

    Após a leitura do épico em comparação com o texto de Pesavento, penso que as politicas públicas de branqueamento, como fluxos migratórios planejados no sul do Brasil, o distanciamento cultural pela diferença entre as línguas latino-americanas, a preferência de relações diplomáticas com nações européias, interesse na globalização, e principalmente: a cultura autoritária de “país-continente” importada da máquina burocrática do velho mundo são as principais razões para o Brasil não ter uma identidade sulamericana consolidada.

    - Gabriel Monteiro Soares-

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  10. O poema épico O Uraguai, de Basílio da Gama, demonstra uma crítica aos jesuítas. O autor expos que os jesuítas defendiam os “direitos’’ dos índios para depois serem seus senhores.
    Com a publicação do livro tem-se um interesse de agradar o homem forte de Portugal, bem como o autor exalta os Guaranis guerreiros da coroa portuguesa. Aos jesuítas coube o papel de vilões pois eram acusados de iludir e enganar os indígenas.
    Em um trecho do Conto III, Basílio da Gama refere-se aos jesuítas como farsantes ao se passarem por raposas enquanto eram lobos:
    “Tem por despojos cabeludas peles
    De ensanguentados e famintos lobos
    E fingidas raposas”...
    Sobre as reflexões de Sandra Jatahy Pesavento creio que as pessoas neguem terem sangue mestiço por preconceito, por não aceitarem não serem de uma raça apenas.
    E é também um caso de sempre se interessar pela cultura alheia, mas desprezar a sua. É um povo que tenta de todas as formas possíveis negar suas origens.
    Bianca Marques.

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  11. O Uraguai foi escrito um ano após o início do Arcadismo, contando as disputas entre os europeus, índios e jesuítas. Os homens brancos recém-chegados na nova terra enxergavam os indígenas que já moravam naquele chão como ´´intrusos``.
    Eles vieram para o Novo Mundo com a ideia de transformar a América em um lugar para resolver os problemas do velho continente, como extrair matéria-prima escassas ou inexistentes na Europa. Como vemos em um fragmento da obra, os luso-espanhóis tiveram a desagradável surpresa de enfrentarem a resistência dos índios e ainda terem de ir ao enfrentamento contra estes:

    ´´Sete Povos, que os bárbaros habita
    Naquela oriental vasta campina
    Que o fértil Uraguai discorre e banha.
    Quem podia esperar que uns índios rudes,
    sem disciplina, sem valor, sem armas,
    Se atravessassem no caminho aos nossos,
    E que lhes disputassemo terreno!``

    O conquistador europeu se autoproclamou civilizado e superior diante dos índios, ao considerar o nativo um ser sem alma e selvagem. Os jesuítas são criticados na obra por incitarem os índios a luta contra os espanhóis e ao mesmo tempo terem o controle da situação:

    ´´E os padres os incitam e acompanham.
    Que,à sua discrição, só eles podem
    Aqui mover ou sossega a guerra.``

    Trazendo aos dias atuais, ao analisar as reflexões de Sandra Jatahy Pesavento vemos que o brasileiro não se envergonha de suas raízes europeias, principalmente no sul do país a alemã, italiana e a portuguesa. Mas evita uma aproximação as origens indígenas, ao contrário transforma o índio em um instrumento de piada com expressões como ´´virou índio para andar pelado``. O brasileiro enxergar o europeu como um modelo a ser copiado, preferindo o que é oriundo do velho continente ao invés de valorizar o que é seu.

    Evandro Moreira Quevedo

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