Considerando as análises e as discussões realizadas em aula, escolha uma passagem/fragmento de alguma obra literária para embasar as seguintes expressões:
- "A vida apenas, sem mistificação"
- "Crítica do homem, anatomia do caráter"
“João Romão mostrou grande interesse por esta desgraça, fez-se até participante direto dos sofrimentos da vizinha, e com tamanho empenho a lamentou, que a boa mulher o escolheu para confidente das suas desventuras. Abriu-se com ele, contou-lhe a sua vida de amofinações e dificuldades. “Seu senhor comia-lhe a pele do corpo! Não era brinquedo para uma pobre mulher ter de escarrar pr’ali, todos os meses, vinte mil-réis em dinheiro!” E segredou-lhe então o que tinha juntado para a sua liberdade e acabou pedindo ao vendeiro que lhe guardasse as economias, porque já de certa vez fora roubada por gatunos que lhe entraram na quitanda pelos fundos.”
AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço. 1 ed. Rio de Janeiro, B.L.Garnier, Livreiro-Editor, 1890.
“Rubião mal sustinha o papel nos dedos. Passados alguns segundos advertiu que podia ser um gracejo do amigo, e releu a carta; mas a segunda leitura confirmou a primeira impressão. Não havia dúvida; estava doudo. Pobre Quincas Borba! Assim, as esquisitices, a frequente alteração de humor, os ímpetos sem motivo, as ternuras sem proporção, não eram mais que prenúncios da ruína total do cérebro. Morria antes de morrer. Tão bom! Tão alegre! Tinha impertinências é verdade, mas a doença explicava-as. Rubião enxugou os olhos úmidos de comoção. Depois veio a lembrança do possível legado, e ainda mais o afligiu, por lhe mostrar que bom amigo ia perder. Quis ainda uma vez ler a carta, agora devagar, analisando as palavras, desconjuntando-as,
o descompor brincando, era conhecido; mas o resto confirmava a suspeita do desastre. Já quase no fim, parou enfiado. Dar-se-ia que, provada a alienação mental do testador, nulo ficaria o testamento, e perdidas as deixas? Rubião teve uma vertigem. Estava ainda com a carta aberta nas mãos, quando viu aparecer o doutor, que vinha por notícias do enfermo; o agente do correio dissera-lhe haver chegado uma carta. Era aquela? -É esta, mas... -Tem alguma comunicação reservada?... -Justamente, traz uma comunicação reservada, reservadíssima; negócios pessoais. Dá licença? Dizendo isto, Rubião meteu a carta no bolso; o médico saiu ele respirou. Escapara ao perigo de publicar tão grave documento, por onde se podia provar o estado mental de Quincas Borba. Minutos depois, arrependeu-se, devia ter entregado a carta, sentiu remorsos pensou em mandá-la à casa do médico. Chamou por um escravo quando este acudiu, já ele mudara outra vez de ideia; considerou que era imprudência; o doente viria em breve,-dali a dias,- perguntaria pela carta, argui-lo-ia de indiscreto, de delator... Remorsos fáceis, de pouca dura. -Não quero nada, disse ao escravo. E outra vez pensou no legado. Calculou o algarismo. Menos de dez contos, não. Compraria um pedaço de terra, uma casa, cultivaria isto ou aquilo, ou lavraria ouro. O pior é se eram menos, cinco contos. .. Cinco? Era pouco; mas, enfim, talvez não passasse disso. Cinco que fossem, era um arranjo menor, e antes menor que nada. Cinco contos... Pior seria se o testamento ficasse nulo. Vão, cinco contos!” Assis, Machado de. Obra Completa. vol. I, Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994 Referencias: http://pt.wikipedia.org/wiki/Quincas_Borba http://www.mundovestibular.com.br http://www.psbnacional.org.br FABIANE ROSA
Trecho do primeiro capítulo de O cortiço, de Aluísio Azevedo, obra publicada em 1890.
“Sempre em mangas de camisa, sem domingo nem dia santo, não perdendo nunca a ocasião de assenhorear-se do alheio, deixando de pagar todas as vezes que podia e nunca deixando de receber, enganando os fregueses, roubando nos pesos e nas medidas, comprando por dez réis de mel coado o que os escravos furtavam da casa dos seus senhores, apertando cada vez mais as próprias despesas, empilhando privações sobre privações, trabalhando e mais a amiga como uma junta de bois, João Romão veio afinal a comprar uma boa parte da bela pedreira, que ele todos os dias, ao cair da tarde, assentado um instante à porta da venda, contemplava de longe com um resignado olhar de cobiça.”
“Daí em diante, João Romão tornou-se o caixa, o procurador e o conselheiro da crioula. No fim de pouco tempo era ele quem tomava conta de tudo que ela produzia e era também quem punha e dispunha dos seus pecúlios, e quem se encarregava de remeter ao senhor os vinte mil-réis mensais. Abriu-lhe logo uma conta corrente, e a quitandeira, quando precisava de dinheiro para qualquer coisa, dava um pulo até à venda e recebia-o das mãos do vendeiro, de “Seu João”, como ela dizia. Seu João debitava metodicamente essas pequenas quantias num caderninho, em cuja capa de papel pardo lia-se, mal escrito e em letras cortadas de jornal: “Ativo e passivo de Bertoleza”. E por tal forma foi o taverneiro ganhando confiança no espírito da mulher, que esta afinal nada mais resolvia só por si, e aceitava dele, cegamente, todo e qualquer arbítrio. Por último, se alguém precisava tratar com ela qualquer negócio, nem mais se dava ao trabalho de procurá-la, ia logo direito a João Romão.”
AZEVEDO, Aluísio de. O Cortiço.1890.
AZEVEDO, Aluísio de. O Cortiço. In: Super downloads. Disponível em: Acesso em: 23 de junho de 2012.
NATURALISMO Trecho da obra “O cortiço” de Aluisio de Azevedo, publicada em 1890.
“[...] Bertoleza representava agora ao lado de João Romão o papel tríplice de caixeiro, de criada e de amante. Mourejava a valer, mas de cara alegre; às quatro da madrugada estava já na faina de todos os dias, aviando o café para os fregueses e depois preparando o almoço para os trabalhadores de uma pedreira que havia para além de um grande capinzal aos fundos da venda. Varria a casa, cozinhava, vendia ao balcão na taverna, quando o amigo andava ocupado lá por fora; fazia a sua quitanda durante o dia no intervalo de outros serviços, e à noite passava-se para a porta da venda, e, defronte de um fogareiro de barro, fritava fígado e frigia sardinhas, que Romão ia pela manhã, em mangas de camisa, de tamancos e sem meias, comprar à praia do Peixe. E o demônio da mulher ainda encontrava tempo para lavar e consertar, além da sua, a roupa do seu homem, que esta, valha a verdade, não era tanta.[...]”
REFERÊNCIAS: De Azevedo, Aluisio. O cortiço. São Paulo: Atica, 1991. Disponível em: http://guiadoestudante.abril.com.br/estude/literatura/materia consulta realizada em: 23/06/12 às 20h
REALISMO Trecho da obra “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, primeira edição publicada em 1881.
CAPÍTULO LXVIII / O VERGALHO “Tais eram as reflexões que eu vinha fazendo, por aquele Valongo fora, logo depois de ver e ajustar a casa. Interrompeu-mas um ajuntamento; era um preto que vergalhava outro na praça. O outro não se atrevia a fugir; gemia somente estas únicas palavras: -- "Não, perdão meu senhor; meu senhor, perdão!" Mas o primeiro não fazia cada súplica, respondia com uma vergalhada nova. -- Toma, diabo! dizia ele; toma mais perdão, bêbado! -- Meu senhor! gemia o outro. Cala a boca, besta! replicava o vergalho. Parei, olhei... Justos céus! Quem havia de ser o do verganho? Nada menos que o meu moleque Prudêncio, o que meu pai libertara alguns anos antes. Cheguei-me; ele deteve-se logo e pedir e a bênção; perguntei-lhe se aquele preto era escravo dele. -- É sim, nhonhô. -- Fez-te alguma cousa? -- É um vadio e um bêbado muito grande. Ainda hoje deixei ele na quitanda, enquanto eu ia lá embaixo na cidade, e ele deixou a quitanda para ir na venda beber. -- Está bom, perdoa-lhe, disse eu. -- Pois não, nhonhô. Nhonhô manda, não pede. Entra para casa, Saí do grupo, que me olhava espantado e cochichava as suas conjeturas. Segui caminho, a desfiar uma infinidade de reflexões, que sinto haver inteiramente perdido; aliás, seria matéria para um bom capítulo, e talvez alegre. Eu gosto dos capítulos alegres; é o meu fraco. Exteriormente, era torvo o episódio do Valongo; mas só exteriormente. Logo que meti mais dentro a faca do raciocínio achei-lhe um miolo gaiato, fino, e até profundo. Era um modo que o Prudêncio tinha de se desfazer das pancadas recebidas, » transmitindo-as a outro. Eu, em criança, montava-o, punha-lhe um freio na boca e desancava-o sem compaixão; ele gemia e sofria. Agora, porem, que era livre, dispunha de si mesmo, dos braços, das pernas, podia trabalhar, folgar, dormir, desagrilhoado da antiga condição, agora é que ele se desbancava: comprou um escravo, e ia-lhe pagando, com alto juro, as quantias que de mim recebera. Vejam as subtilezas do maroto!”
Referências: Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Ática, 1995. Disponível em: http://www.spectroeditora.com.br/fonjic/machado/romances/cubas/68.php Consulta realizada em: 23/06/12 às 20h30min
O Cortiço, de Aluísio Azevedo, obra publicada em 1890. Segue-se o fragmento selecionado:
"O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; já se não destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se discussões e rezingas; ouviam-se gargalhadas e pragas; já se não falava, gritava-se. Sentia-se naquela fermentação sangüínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras que mergulham os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, o prazer animal de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra."
AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. 15. ed. São Paulo: Ática, 1984. p. 28-29.
Fragmento retirado de “O Cortiço” de Aluísio de Azevedo: “Na dolorosa incerteza de que Zulmira fosse sua filha, o desgraçado nem sequer gozava o prazer de ser pai. Se ela, em vez de nascer de Estela, fora uma enjeitadinha recolhida por ele, é natural que a amasse e então a vida lhe correria de outro modo; mas naquelas condições, a pobre criança nada mais representava que o documento vivo do ludibrio materno, e o Miranda estendia até à inocentezinha d'África o ódio que sustentava contra a esposa. Uma espiga a tal da sua vida! — Fui uma besta! resumiu ele, em voz alta, apeando-se da cama, onde se havia recolhido inutilmente. E pôs-se a passear no quarto sem vontade de dormir, sentindo que a febre daquela inveja lhe estorricava os miolos. Feliz e esperto era o João Romão! esse, sim, senhor! Para esse é que havia de ser a vida!... Filho da mãe, que estava hoje tão livre e desembaraçado como no dia em que chegou da terra sem um vintém de seu! esse, sim, que era moço e podia ainda gozar muito, porque quando mesmo viesse a casar e a mulher lhe saísse uma outra Estela era só mandá-la para o diabo com um pontapé! Podia fazê-lo! Para esse é que era o Brasil!”
AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. Porto Alegre: L&PM, 2011.cap.II, p.28
CAPÍTULO XI / O MENINO É PAI DO HOMEM // Realismo Outrossim, afeiçoei-me à contemplação da injustiça humana, inclinei-me a atenuá-la, a explicá-la, a classifiquei-a por partes, a entendê-la, não segundo um padrão rígido, mas ao sabor das circunstâncias e lugares. Minha mãe doutrinava-me a seu modo, fazia-me decorar alguns preceitos e orações; mas eu sentia que, mais do que as orações, me governavam os nervos e o sangue, e a boa regra perdia o espírito, que a faz viver, para se tornar uma vã fórmula. De manhã, antes do mingau, e de noite, antes da cama, pedia a Deus que me perdoasse, assim como eu perdoava aos meus devedores; mas entre a manhã e a noite fazia uma grande maldade, e meu pai, passado o alvoroço, dava-me pancadinhas na cara, e exclamava a rir: Ah! brejeiro! ah! brejeiro! Sim, meu pai adorava-me. Minha mãe era uma senhora fraca, de pouco cérebro e muito coração, assaz crédula, sinceramente piedosa, — caseira, apesar de bonita, e modesta, apesar de abastada; temente às trovoadas e ao marido. O marido era na Terra o seu deus. Da colaboração dessas duas criaturas nasceu a minha educação, que, se tinha alguma coisa boa, era no geral viciosa, incompleta, e, em partes, negativa. Meu tio cônego fazia às vezes alguns reparos ao irmão; Texto-fonte: Obra Completa, Machado de Assis, Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1994. Publicado originalmente em folhetins, a partir de março de 1880, na Revista Brasileira www.dominiopublico.gov.br Memórias Póstumas de Brás Cubas Gladis
NaturalismoO Cortiço, de Aluísio de Azevedo Fonte: AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. 30. ed. São Paulo: Ática, 1997. (Bom Livro). Publicado em 1890. reconhecia urgente, de afastar Dona Estela do alcance dos seus caixeiros. Dona Estela era uma mulherzinha levada da breca: achava-se casada havia treze anos e durante esse tempo dera ao marido toda sorte de desgostos. Ainda antes de terminar o segundo ano de matrimônio, o Miranda pilhou-a em flagrante delito de adultério; ficou furioso e o seu primeiro impulso foi de mandá-la para o diabo junto com o cúmplice; mas a sua casa comercial garantia-se com o dote que ela trouxera, uns oitenta contos em prédios e ações da divida publica, de que se utilizava o desgraçado tanto quanto lhe permitia o regime dotal. Além de que, um rompimento brusco seria obra para escândalo, e, segundo a sua opinião, qualquer escândalo doméstico ficava muito mal a um negociante de certa ordem. Prezava, acima de tudo, a sua posição social e tremia só com a idéia de ver-se novamente pobre, sem recursos e sem coragem para recomeçar a vida, depois de se haver habituado a umas tantas regalias e afeito à hombridade de português rico que já não tem pátria na Europa. Acovardado defronte destes raciocínios, contentou-se com uma simples separação de leitos, e os dois passaram a dormir em quartos separados. Não comiam juntos, e mal trocavam entre si uma ou outra palavra constrangida, quando qualquer inesperado acaso os reunia a contragosto. Odiavam-se. Cada qual sentia pelo outro um profundo desprezo, que pouco a pouco se foi transformando em repugnância completa. O nascimento de Zulmira veio agravar ainda mais a situação; a pobre criança, em vez de servir de elo aos dois infelizes, foi antes um novo isolador que se estabeleceu entre eles. Estela amava-a menos do que lhe pedia o instinto materno por supô-la filha do marido, e este a detestava porque tinha convicção de não ser seu pai. Gladis www.dominiopublico.gov.br
Publicado em 1890, O Cortiço é uma grande obra representante do Naturalismo brasileiro, sua melhor expressão. Constituindo-se em um dos melhores retratos do Brasil do fim do segundo império, a obra mostra a realidade das aglomerações humanas sujeitas à influência da raça, do meio social e do momento histórico. O predomínio dos instintos no comportamento do indivíduo, a força da sensualidade da mulher mestiça, o meio em que estão inseridos como fator determinante do comportamento são algumas das teses defendidas pelo autor ao lado de fortes denúncias sociais. O protagonista do romance é o próprio cortiço, onde se acotovelavam lavadeiras, trabalhadores de pedreira, malandros e viúvas pobres. “... Rita havia parado em meio do pátio. ... Por onde andara aquele diabo, que não aparecia para mais de três meses? _ Ora, nem me fales, coração! Sabe? Pagode de roça! Que hei de fazer? É a minha cabeça velha!... _ Mas onde estivesse tu enterrada tanto tempo, criatura? _ Em Jacarepaguá. _ Com quem? _ Com o Firmo... _ Oh ainda dura isso? _ Cala a boca! A coisa agora é séria! _ Qual! Quem mesmo? Tu? passa fora! _ Paixões de Rita! Exclamou o bruno com uma risada. Uma por ano! Não contando as miúdas! _ Não! Isso é que não! Quando estou com um homem não olho para outro! Leocádia, que era perdida pela mulata, saltara-lhe ao pescoço ao primeiro encontro, e agora, defronte ela, com as mãos nas cadeiras, os olhos úmidos de emoção, rindo, sem se fartar de vê-la, fazia-lhe perguntas sobre perguntas: _ Mas por que não te metes tu logo por uma vez como Firmo? Por que não te casas com ele? _ Casar? Livra! Para quê? Para arranjar cativeiro? Um marido é pior que diabo; pensa logo que a gente é escrava! Nada! Qual! Deus te livre! Não há como viver cada um senhor e dono do que é seu! E sacudiu todo corpo num movimento de desdém que lhe era peculiar. _ Olha só que peste! Considerou Augusta, rindo, muito mole, na sua honestidade preguiçosa. Esta também achava infinita graça na Rita Baiana e seria capaz de levar um dia inteiro a vê-la dançar o chorado... (Escolhi essa parte da obra pois considero que representa bem o caráter de uma mulher forte e determinada, que embora não seja promiscua como a consideram, tem um pensamento de não casar para não prender-se ao marido, nem ser submissa, mas em ter seu amor por perto sem maiores compromissos). Pag. 64/65. Bibliografia: AZEVEDO, Aluísio, O Cortiço, texto integral L&PM POCKET. Adelita Vimes Rodrigues
Realismo O Realismo brasileiro é completamente diferente do europeu. A obra de seu principal autor, Machado de Assis, escapa de qualquer tentativa de classificação esquemática. Na fase madura, Machado produz uma literatura essencialmente problematizadora. Com minuciosa investigação psicológica, ele indaga a existência humana. Ele ainda substitui o determinismo biológico por acentuado pessimismo existencialista e discute temas como a relatividade da loucura e a exploração do homem pelo próprio homem. A intertextualidade e a metalinguagem marcam o estilo de Machado. O uso da linguagem poética, do jogo proposital de ambigüidades, da recuperação de lugares comuns e do microrrealismo psicológico também são características fundamentais da obra machadiana. Dom Casmurro, Esaú e Jacó e Memorial de Aires são alguns romances do autor. Livros e flores
Teus olhos são meus livros. Que livro há aí melhor, Em que melhor se leia A página do amor?
Flores me são teus lábios. Onde há mais bela flor, Em que melhor se beba O bálsamo do amor? Machado de Assis
Naturalismo O principal autor naturalista no Brasil é Aluísio Azevedo. O determinismo social predomina em sua obra, construída através de observação rigorosa do mundo físico e da zoomorfização das personagens. Aluísio é autor de O mulato, Casa de pensão e O cortiço, obras com acentuado caráter investigativo e cuidadosa análise de comportamentos sociais.A riqueza literária do realismo-naturalismo no Brasil não se restringe à prosa de ficção.
O mundo natural encarna as pressões anímicas .E na poesia ecoam o tumulto do mar ea placidez do lago,o fragor da tempestade eo silêncio do acaso,o ímpeto do vento e a fixidez do céu,o terror do abismo e a seneridade do monte. Poema pobre amor (Aulízio de Azevedo) Calcula, minha amiga, que tortura! Amo-te muito e muito, e, todavia, preferira morrer a ver-te um dia merecer o labéu de esposa impura!
Que te não enterneça esta loucura, que te não mova nunca esta agonia, que eu muito sofra porque és casta e pura, que, se o não fôras, quanto eu sofreria!
Ah! Quanto eu sofreria se alegrasses com teus beijos de amor, meus lábios tristes, com teus beijos de amor, as minhas faces!
Persiste na moral em que persistes. Ah! Quanto eu sofreria se pecasses, mas quanto sofro mais porque resistes!
Realismo A primeira publicação da obra O ateneu de Raul Pompéia ocorreu em 1888 e esse fragmento foi retirado do livro Pompéia, Raul. O Ateneu, cap. XII. "Falavam do incendiário. Imóvel! Contavam que não se achava a senhora. Imóvel! A própria senhora com quem ele contava para o jardim de crianças! Dor veneranda! Indiferença suprema dos sofrimentos excepcionais! Majestade inerte do cedro fulminado! Ele pertencia ao monopólio da mágoa. O Ateneu devastado! O seu trabalho perdido, a conquista inapreciável de seus esforços!... Em paz!... Não era um homem aquilo; era um de profundas." Raul Pompéia Catiusce Voigt
Naturalismo “dócil, afável, inteligente... O que a tornava superior e lhe dava a possibilidade de triunfo era a arte de acomodar-se, às circunstâncias do momento e a toda casta de espíritos, arte preciosa que faz hábeis os homens e estimáveis as mulheres. Helena praticava de livros ou de alfinetes, de bailes ou de arranjos de casa, com igual interesse e gosto, frívola com os frívolos, grave com os que eram, atenciosa e ouvida sem entono nem vulgaridade. Havia nela a jovialidade de menina e a compostura da mulher feita, um acordo de virtudes domésticas e maneiras elegantes”. Machado de Assis Trecho retirado de Assis, Machado de. Helena in obra completa. RJ, editora José Aguilar Ltda., 1962, Vol. 1, pág. 284, sendo que sua primeira obra Helena foi publicada em 1876. Catiusce Voigt
REALISMO Dom Casmurro (1899). Machado de Assis: Narrado na 1ª pessoa. Possui atividade crítica, objetividade e contemporaneidade, características, voltado para a análise (ou exposição) psicológica e que critica ironicamente a sociedade carioca. “Vivo só, com um criado. A casa em que moro é própria...O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência. Pois, senhor, não consegui recompor o que foi nem o que fui... Uma certidão que me desse vinte anos de idade poderia enganar os estranhos, como todos os documentos falsos, mas não a mim. Os amigos que me restam são de data recente; todos os antigos foram estudar a geologia dos campos-santos.[...] Em verdade, pouco apareço e menos falo. Distrações raras. O mais do tempo é gasto em hortar, jardinar e ler; como bem e não durmo mal.Ora, como tudo cansa, esta monotonia acabou por exaurir-me também. Quis variar, e lembrou-me escrever um livro” NATURALISMO O Cortiço (1890). Aluisio de Azevedo - O romance difunde as teses naturalistas, que explicam o comportamento dos personagens com base na influência do meio, da raça e do momento histórico. “Odiavam-se. Cada qual sentia pelo outro um profundo desprezo, que pouco a pouco se foi transformando em repugnância completa... Uma bela noite, porém, o Miranda, que era homem de sangue esperto e orçava então pelos seus trinta e cinco anos; sentiu-se em insuportável estado de lubricidade. Era tarde já e não havia em casa alguma criada que lhe pudesse valer. Lembrou-se da mulher, mas repeliu logo esta idéia com escrupulosa repugnância. Continuava a odiá-la. Consumado o delito, o honrado negociante sentiu-se tolhido de vergonha e arrependimento. Não teve ânimo de dar palavra, e retirou-se tristonho e murcho para o seu quarto de desquitado...”
PARNASIANISMO Olavo Bilac, Rio de Janeiro, 26 de Dezembro de 1865 – 28 de Dezembro de 1918. Jornalista e poeta. Membro fundador da Academia Brasileira de Letras. Escreveu a letra do Hino à Bandeira. Em 1907, foi eleito”Príncipe dos poetas brasileiros”, pela revista Fon-fon. Apoio dado ao projeto de lei para instituir a obrigatoriedade do serviço militar no Brasil. É considerado o mais importante de nossos poetas parnasianos. Língua Portuguesa - Soneto constituído de versos decassílabos heroicos (acento tônico ocorrente nas 6ª e 10ª sílabas poéticas), com rimas opostas, interpoladas ou intercaladas. Tema já tratado por Camões. Um soneto contado em 14 versos, distribuídos em dois quartetos e dois tercetos, seguindo as normas clássicas da pontuação e da rima. Última flor do Lácio, inculta e bela És, a um tempo, esplendor e sepultura: Outro nativo, que na ganga impura A bruta mina entre os cascalhos vela... Amo-te assim, desconhecida e obscura, Tuba de alto clangor, lira singela, Que tens o trom e o silvo da procela E o arrolo da saudade e da ternura! Amo o teu viço agreste e o teu aroma De virgens selvas e de oceano largo! Amo-te, ó rude e doloroso idioma, Em que da voz materna ouvi: “meu filho!” E em que Camões chorou, no exílio amargo, O gênio sem ventura e o amor sem brilho! SIMBOLISMO – Flores do Mal (1857), Charles Baudelaire, obra precursora do movimento. Tendência literária da poesia que surgiu na França, no final do século XIX, como oposição ao Realismo, ao Naturalismo e ao Positivismo. Principais características – subjetivismo, musicalidade e trancendentarismo. Alphonsus de Guimarães , Mariana, 24 de julho de1870 – 15 de julho de1921). Seus veros tratavam de amor, morte e religiosidade. Obras: Septenário das dores de Nossa Senhora (1899); Câmara Ardente (l899); Dona Mística (1899); Kyriale (1902); Mendigos (1920). “O céu é do todo trevas: o vento uiva Do relâmpago a cabeleira ruiva. Vem açoitar o rosto meu. E a catedral ebúnea do meu sonho Afunda-se no caos do céu medonho Como um astro que já morreu”. BIBLIOGRAFIA Assis, Machado de. Dom Casmurro. In: Obra completa. Moderna, São Paulo, 1994 AZEVEDO, Aluisio.O cortiço. São Paulo: Scipione, 1995. BILAC, Olavo. Poesia, Livraria Francisco Alves,1964, pág. 262. pt.Wikipedia.org./wiki
Mas, e a bertoleza?... Sim! Era preciso acabar com ela! Despachá-la! Sumi-la por uma vez! Deu meia- noite no relógio do armazém. João Romão tomou uma vela e desceu aos fundos da casa, onde Bertoleza dormia. Aproximou-se dela, pé ante pé, como um criminoso que leva uma ideia homicida. A crioula estava imóvel sobre o enxergão, deitada de lado, com a cara escondida no braço direito, que ela dobrava por debaixo da cabeça. Aprecia-lhe uma parte do corpo nua. João Romão contemplou-a por algum tempo, com asno. E era aquilo,aquela miserável preta que ali dormia indiferentemente, o grande estorvo da sua aventura!...Parecia impossível! - E se ela morresse?... Esta frase, que ele tivera, quando pensou pela primeira vez naquele obstáculo à sua felicidade, tornava-lhe agora ao espírito, porém já amadurecida e transformada nesta outra: - e se ela morresse?...
Referência: O cortiço/ Aluísio Azevedo. – 3.ed. – São Paulo: Ciranda Cultural, 2010. – (Clássicos da literatura)
Mas, e a bertoleza?... Sim! Era preciso acabar com ela! Despachá-la! Sumi-la por uma vez! Deu meia- noite no relógio do armazém. João Romão tomou uma vela e desceu aos fundos da casa, onde Bertoleza dormia. Aproximou-se dela, pé ante pé, como um criminoso que leva uma ideia homicida. A crioula estava imóvel sobre o enxergão, deitada de lado, com a cara escondida no braço direito, que ela dobrava por debaixo da cabeça. Aprecia-lhe uma parte do corpo nua. João Romão contemplou-a por algum tempo, com asno. E era aquilo,aquela miserável preta que ali dormia indiferentemente, o grande estorvo da sua aventura!...Parecia impossível! - E se ela morresse?... Esta frase, que ele tivera, quando pensou pela primeira vez naquele obstáculo à sua felicidade, tornava-lhe agora ao espírito, porém já amadurecida e transformada nesta outra: - e se ela morresse?...
Referência: O cortiço/ Aluísio Azevedo. – 3.ed. – São Paulo: Ciranda Cultural, 2010. – (Clássicos da literatura) página 140.
"... esses pequenos episódios de infância, tão insignificantes na aparência, decretaram a diluição que devia tomar o caráter de Amâncio. Desde logo habituou-se a fazer uma falsa ideia de seus semelhantes; julgou os homens por seu pai, seu professor e seus condiscípulos. - E abominou-os. Principiou a aborrecê-los secretamente, por uma fatalidade do ressentimento, principiou a desconfiar de todos, a prevenir-se contra tudo, a disfarçar, a fingir que era o que exigiam brutalmente que ele fosse. " AZEVEDO,Aluísio de.Casa de Pensão.1884
Naturalismo Trecho do livro: O mulato Luís Dias era empregado de Manuel Pescada, que por instigação do cônego acabou por assassinar Raimundo. (...) era um tipo fechado como um ovo, um ovo choco que mal denuncia na casca a podridão interior. Todavia, nas cores biliosas do rosto, no desprezo do próprio corpo, na taciturnidade paciente daquela exagerada economia, adivinhava-se-lhe uma ideia fixa, um alvo para o qual caminhava o acrobata, sem olhar dos lados, preocupado, nem que se equilibrasse sobre uma corda tesa. Não desdenhava qualquer meio para chegar mais depressa aos fins; aceitava, sem examinar, qualquer caminho desde que lhe parecesse mais curto; tudo servia, tudo era bom, contanto que o levasse mais rapidamente ao ponto desejado. Lama ou brasa - havia de passar por cima; havia de chegar ao alvo - enriquecer. Quanto à figura, repugnante era magro e macilento, um tanto baixo um tanto curvado, pouca barba, testa curta e olhos fundos. O uso constante dos chinelos de trança fizera-lhe os pés monstruosos e chatos quando ele andava, lançava-os desairosamente para os lados, como o movimento dos palmípedes nadando. Aborrecia-o o charuto, o passeio, o teatro e as reuniões em que fosse necessário despender alguma coisa; quando estava perto da gente sentia-se logo um cheiro azedo de roupas sujas. Aluísio Azevedo Referencias: http://revisaovirtual.com/site/Artigos_79_realismo.htm http://palavrasintrepidas.blogspot.com.br/2012/04/analise-de-o-mulato_01.html [Sirlei Schumacher]
Realismo naturalismo MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS Machado de Assis
Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no intróito, mas no cabo; diferença radical entre este livro e o Pentateuco. Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce que chovia — peneirava — uma chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e tão triste, que levou um daqueles fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa idéia no discurso que proferiu à beira de minha cova: — “Vós, que o conhecestes, meus senhores, vós podeisdizer comigo que a natureza parece estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que tem honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isso é a dor crua e má que lhe rói à natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado.”
“A vida pela vida” - Naturalismo Trecho do Romance "O cortiço" João Romão não saía nunca a passeio, nem ia à missa aos domingos; tudo que rendia a sua venda e mais a quitanda seguia direitinho para a caixa econômica e daí então para o banco. Tanto assim que, um ano depois da aquisição da crioula, indo em hasta pública algumas braças de terra situadas ao fundo da taverna, arrematou-as logo e tratou, sem perda de tempo, de construir três casinhas de porta e janela. Referência: O Cortiço/Aluísio Azevedo-1ª ed.-São Paulo: Círculo do Livro S.A- Edição Integral ( Grandes da Literatura Brasileira )- página 10. (Thamires Marchezini)
Referência: O Cortiço/Aluísio Azevedo-1ª ed.-São Paulo: Círculo do Livro S.A- Edição Integral ( Grandes da Literatura Brasileira )- página 10. (Thamires Marchezini)
“João Romão mostrou grande interesse por esta desgraça, fez-se até participante direto dos sofrimentos da vizinha, e com tamanho empenho a lamentou, que a boa mulher o escolheu para confidente das suas desventuras. Abriu-se com ele, contou-lhe a sua vida de amofinações e dificuldades. “Seu senhor comia-lhe a pele do corpo! Não era brinquedo para uma pobre mulher ter de escarrar pr’ali, todos os meses, vinte mil-réis em dinheiro!” E segredou-lhe então o que tinha juntado para a sua liberdade e acabou pedindo ao vendeiro que lhe guardasse as economias, porque já de certa vez fora roubada por gatunos que lhe entraram na quitanda pelos fundos.”
ResponderExcluirAZEVEDO, Aluísio. O Cortiço. 1 ed. Rio de Janeiro, B.L.Garnier, Livreiro-Editor, 1890.
REFERÊNCIAS:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000015.pdf
http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_lit/index.cfm
http://www.casaruibarbosa.gov.br/Expo/naturalismo/o_cortico.htm
[Aline Morales]
“Rubião mal sustinha o papel nos dedos. Passados alguns segundos advertiu que podia
ResponderExcluirser um gracejo do amigo, e releu a carta; mas a segunda leitura confirmou a primeira
impressão. Não havia dúvida; estava doudo. Pobre Quincas Borba! Assim, as esquisitices, a
frequente alteração de humor, os ímpetos sem motivo, as ternuras sem proporção, não eram
mais que prenúncios da ruína total do cérebro. Morria antes de morrer. Tão bom! Tão alegre!
Tinha impertinências é verdade, mas a doença explicava-as. Rubião enxugou os olhos úmidos
de comoção. Depois veio a lembrança do possível legado, e ainda mais o afligiu, por lhe
mostrar que bom amigo ia perder.
Quis ainda uma vez ler a carta, agora devagar, analisando as palavras, desconjuntando-as,
o descompor brincando, era conhecido; mas o resto confirmava a suspeita do desastre. Já
quase no fim, parou enfiado. Dar-se-ia que, provada a alienação mental do testador, nulo
ficaria o testamento, e perdidas as deixas? Rubião teve uma vertigem. Estava ainda com a
carta aberta nas mãos, quando viu aparecer o doutor, que vinha por notícias do enfermo; o
agente do correio dissera-lhe haver chegado uma carta. Era aquela?
-É esta, mas...
-Tem alguma comunicação reservada?...
-Justamente, traz uma comunicação reservada, reservadíssima; negócios pessoais. Dá
licença?
Dizendo isto, Rubião meteu a carta no bolso; o médico saiu ele respirou. Escapara ao
perigo de publicar tão grave documento, por onde se podia provar o estado mental de Quincas
Borba. Minutos depois, arrependeu-se, devia ter entregado a carta, sentiu remorsos pensou em
mandá-la à casa do médico. Chamou por um escravo quando este acudiu, já ele mudara outra
vez de ideia; considerou que era imprudência; o doente viria em breve,-dali a dias,-
perguntaria pela carta, argui-lo-ia de indiscreto, de delator... Remorsos fáceis, de pouca dura.
-Não quero nada, disse ao escravo. E outra vez pensou no legado. Calculou o
algarismo. Menos de dez contos, não. Compraria um pedaço de terra, uma casa, cultivaria isto
ou aquilo, ou lavraria ouro. O pior é se eram menos, cinco contos. .. Cinco? Era pouco; mas,
enfim, talvez não passasse disso. Cinco que fossem, era um arranjo menor, e antes menor que
nada. Cinco contos... Pior seria se o testamento ficasse nulo. Vão, cinco contos!”
Assis, Machado de. Obra Completa. vol. I, Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994
Referencias:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Quincas_Borba
http://www.mundovestibular.com.br
http://www.psbnacional.org.br
FABIANE ROSA
Trecho do primeiro capítulo de O cortiço, de Aluísio Azevedo, obra publicada em 1890.
ResponderExcluir“Sempre em mangas de camisa, sem domingo nem dia santo, não perdendo nunca a ocasião de assenhorear-se do alheio, deixando de pagar todas as vezes que podia e nunca deixando de receber, enganando os fregueses, roubando nos pesos e nas medidas, comprando por dez réis de mel coado o que os escravos furtavam da casa dos seus senhores, apertando cada vez mais as próprias despesas, empilhando privações sobre privações, trabalhando e mais a amiga como uma junta de bois, João Romão veio afinal a comprar uma boa parte da bela pedreira, que ele todos os dias, ao cair da tarde, assentado um instante à porta da venda, contemplava de longe com um resignado olhar de cobiça.”
Referência
Fundação Biblioteca Nacional. Disponível em:
http://objdigital.bn.br/Acervo_Digital/Livros_eletronicos/cortico.pdf Acesso em 22 jun. 2012
[Juliane M. Orlandi]
O Cortiço
ResponderExcluirAluísio de Azevedo
“Daí em diante, João Romão tornou-se o caixa, o procurador e o conselheiro da crioula. No fim de pouco tempo era ele quem tomava conta de tudo que ela produzia e era também quem punha e dispunha dos seus pecúlios, e quem se encarregava de remeter ao senhor os vinte mil-réis mensais. Abriu-lhe logo uma conta corrente, e a quitandeira, quando precisava de dinheiro para qualquer coisa, dava um pulo até à venda e recebia-o das mãos do vendeiro, de “Seu João”, como ela dizia. Seu João debitava metodicamente essas pequenas quantias num caderninho, em cuja capa de papel pardo lia-se, mal escrito e em letras cortadas de jornal: “Ativo e passivo de Bertoleza”.
E por tal forma foi o taverneiro ganhando confiança no espírito da mulher, que esta afinal nada mais resolvia só por si, e aceitava dele, cegamente, todo e qualquer arbítrio. Por último, se alguém precisava tratar com ela qualquer negócio, nem mais se dava ao trabalho de procurá-la, ia logo direito a João Romão.”
AZEVEDO, Aluísio de. O Cortiço.1890.
AZEVEDO, Aluísio de. O Cortiço. In: Super downloads. Disponível em:
Acesso em: 23 de junho de 2012.
[Jéssica Nunes]
BIANCA ROSA PERES
ResponderExcluirNATURALISMO
Trecho da obra “O cortiço” de Aluisio de Azevedo, publicada em 1890.
“[...] Bertoleza representava agora ao lado de João Romão o papel tríplice de caixeiro, de criada e de amante. Mourejava a valer, mas de cara alegre; às quatro da madrugada estava já na faina de todos os dias, aviando o café para os fregueses e depois preparando o almoço para os trabalhadores de uma pedreira que havia para além de um grande capinzal aos fundos da venda. Varria a casa, cozinhava, vendia ao balcão na taverna, quando o amigo andava ocupado lá por fora; fazia a sua quitanda durante o dia no intervalo de outros serviços, e à noite passava-se para a porta da venda, e, defronte de um fogareiro de barro, fritava fígado e frigia sardinhas, que Romão ia pela manhã, em mangas de camisa, de tamancos e sem meias, comprar à praia do Peixe. E o demônio da mulher ainda encontrava tempo para lavar e consertar, além da sua, a roupa do seu homem, que esta, valha a verdade, não era tanta.[...]”
REFERÊNCIAS:
De Azevedo, Aluisio. O cortiço. São Paulo: Atica, 1991.
Disponível em: http://guiadoestudante.abril.com.br/estude/literatura/materia consulta realizada em: 23/06/12 às 20h
BIANCA ROSA PERES
ResponderExcluirREALISMO
Trecho da obra “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, primeira edição publicada em 1881.
CAPÍTULO LXVIII / O VERGALHO
“Tais eram as reflexões que eu vinha fazendo, por aquele Valongo fora, logo depois de ver e ajustar a casa. Interrompeu-mas um ajuntamento; era um preto que vergalhava outro na praça. O outro não se atrevia a fugir; gemia somente estas únicas palavras: -- "Não, perdão meu senhor; meu senhor, perdão!" Mas o primeiro não fazia cada súplica, respondia com uma vergalhada nova.
-- Toma, diabo! dizia ele; toma mais perdão, bêbado!
-- Meu senhor! gemia o outro.
Cala a boca, besta! replicava o vergalho.
Parei, olhei... Justos céus! Quem havia de ser o do verganho? Nada menos que o meu moleque Prudêncio, o que meu pai libertara alguns anos antes. Cheguei-me; ele deteve-se logo e pedir e a bênção; perguntei-lhe se aquele preto era escravo dele.
-- É sim, nhonhô.
-- Fez-te alguma cousa?
-- É um vadio e um bêbado muito grande. Ainda hoje deixei ele na quitanda, enquanto eu ia lá embaixo na cidade, e ele deixou a quitanda para ir na venda beber.
-- Está bom, perdoa-lhe, disse eu.
-- Pois não, nhonhô. Nhonhô manda, não pede. Entra para casa,
Saí do grupo, que me olhava espantado e cochichava as suas conjeturas. Segui caminho, a desfiar uma infinidade de reflexões, que sinto haver inteiramente perdido; aliás, seria matéria para um bom capítulo, e talvez alegre. Eu gosto dos capítulos alegres; é o meu fraco. Exteriormente, era torvo o episódio do Valongo; mas só exteriormente. Logo que meti mais dentro a faca do raciocínio achei-lhe um miolo gaiato, fino, e até profundo. Era um modo que o Prudêncio tinha de se desfazer das pancadas recebidas, » transmitindo-as a outro. Eu, em criança, montava-o, punha-lhe um freio na boca e desancava-o sem compaixão; ele gemia e sofria. Agora, porem, que era livre, dispunha de si mesmo, dos braços, das pernas, podia trabalhar, folgar, dormir, desagrilhoado da antiga condição, agora é que ele se desbancava: comprou um escravo, e ia-lhe pagando, com alto juro, as quantias que de mim recebera. Vejam as subtilezas do maroto!”
Referências:
Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Ática, 1995.
Disponível em: http://www.spectroeditora.com.br/fonjic/machado/romances/cubas/68.php Consulta realizada em: 23/06/12 às 20h30min
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ResponderExcluirO Cortiço, de Aluísio Azevedo, obra publicada em 1890. Segue-se o fragmento selecionado:
ResponderExcluir"O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; já se não destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se discussões e rezingas; ouviam-se gargalhadas e pragas; já se não falava, gritava-se. Sentia-se naquela fermentação sangüínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras que mergulham os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, o prazer animal de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra."
AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. 15. ed. São Paulo: Ática, 1984. p. 28-29.
Fragmento retirado de “O Cortiço” de Aluísio de Azevedo:
ResponderExcluir“Na dolorosa incerteza de que Zulmira fosse sua filha, o desgraçado nem sequer gozava o prazer de ser pai. Se ela, em vez de nascer de Estela, fora uma enjeitadinha recolhida por ele, é natural que a amasse e então a vida lhe correria de
outro modo; mas naquelas condições, a pobre criança nada mais representava que o documento vivo do ludibrio materno, e o Miranda estendia até à inocentezinha d'África o ódio que sustentava contra a esposa.
Uma espiga a tal da sua vida!
— Fui uma besta! resumiu ele, em voz alta, apeando-se da cama, onde se
havia recolhido inutilmente.
E pôs-se a passear no quarto sem vontade de dormir, sentindo que a febre
daquela inveja lhe estorricava os miolos.
Feliz e esperto era o João Romão! esse, sim, senhor! Para esse é que havia de ser a vida!... Filho da mãe, que estava hoje tão livre e desembaraçado como no dia em que chegou da terra sem um vintém de seu! esse, sim, que era moço e podia ainda gozar muito, porque quando mesmo viesse a casar e a mulher lhe saísse uma outra Estela era só mandá-la para o diabo com um pontapé! Podia fazê-lo! Para esse é que era o Brasil!”
AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. Porto Alegre: L&PM, 2011.cap.II, p.28
Bruna Sedrez
CAPÍTULO XI / O MENINO É PAI DO HOMEM // Realismo
ResponderExcluirOutrossim, afeiçoei-me à contemplação da injustiça humana, inclinei-me a atenuá-la, a explicá-la, a classifiquei-a por partes, a entendê-la, não segundo um padrão rígido, mas ao sabor das circunstâncias e lugares. Minha mãe doutrinava-me a seu modo, fazia-me decorar alguns preceitos e orações; mas eu sentia que, mais do que as orações, me governavam os nervos e o sangue, e a boa regra perdia o espírito, que a faz viver, para se tornar uma vã fórmula. De manhã, antes do mingau, e de noite, antes da cama, pedia a Deus que me perdoasse, assim como eu perdoava aos meus devedores; mas entre a manhã e a noite fazia uma grande maldade, e meu pai, passado o alvoroço, dava-me pancadinhas na cara, e exclamava a rir: Ah! brejeiro! ah! brejeiro!
Sim, meu pai adorava-me. Minha mãe era uma senhora fraca, de pouco cérebro e muito coração, assaz crédula, sinceramente piedosa, — caseira, apesar de bonita, e modesta, apesar de abastada; temente às trovoadas e ao marido. O marido era na Terra o seu deus. Da colaboração dessas duas criaturas nasceu a minha educação, que, se tinha alguma coisa boa, era no geral viciosa, incompleta, e, em partes, negativa. Meu tio cônego fazia às vezes alguns reparos ao irmão;
Texto-fonte:
Obra Completa, Machado de Assis,
Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1994.
Publicado originalmente em folhetins, a partir de março de 1880, na Revista Brasileira
www.dominiopublico.gov.br
Memórias Póstumas de Brás Cubas
Gladis
NaturalismoO Cortiço, de Aluísio de Azevedo
ResponderExcluirFonte:
AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. 30. ed. São Paulo: Ática, 1997. (Bom Livro).
Publicado em 1890.
reconhecia urgente, de afastar Dona Estela do alcance dos seus caixeiros. Dona Estela era uma mulherzinha levada da breca: achava-se casada havia treze anos e durante esse tempo dera ao marido toda sorte de desgostos. Ainda antes de terminar o segundo ano de matrimônio, o Miranda pilhou-a em flagrante delito de adultério; ficou furioso e o seu primeiro impulso foi de mandá-la para o diabo junto com o cúmplice; mas a sua casa comercial garantia-se com o dote que ela trouxera, uns oitenta contos em prédios e ações da divida publica, de que se utilizava o desgraçado tanto quanto lhe permitia o regime dotal. Além de que, um rompimento brusco seria obra para escândalo, e, segundo a sua opinião, qualquer escândalo doméstico ficava muito mal a um negociante de certa ordem. Prezava, acima de tudo, a sua posição social e tremia só com a idéia de ver-se novamente pobre, sem recursos e sem coragem para recomeçar a vida, depois de se haver habituado a umas tantas regalias e afeito à hombridade de português rico que já não tem pátria na Europa.
Acovardado defronte destes raciocínios, contentou-se com uma simples separação de leitos, e os dois passaram a dormir em quartos separados. Não comiam juntos, e mal trocavam entre si uma ou outra palavra constrangida, quando qualquer inesperado acaso os reunia a contragosto.
Odiavam-se. Cada qual sentia pelo outro um profundo desprezo, que pouco a pouco se foi transformando em repugnância completa. O nascimento de Zulmira veio agravar ainda mais a situação; a pobre criança, em vez de servir de elo aos dois infelizes, foi antes um novo isolador que se estabeleceu entre eles. Estela amava-a menos do que lhe pedia o instinto materno por supô-la filha do marido, e este a detestava porque tinha convicção de não ser seu pai.
Gladis
www.dominiopublico.gov.br
Publicado em 1890, O Cortiço é uma grande obra representante do Naturalismo brasileiro, sua melhor expressão. Constituindo-se em um dos melhores retratos do Brasil do fim do segundo império, a obra mostra a realidade das aglomerações humanas sujeitas à influência da raça, do meio social e do momento histórico. O predomínio dos instintos no comportamento do indivíduo, a força da sensualidade da mulher mestiça, o meio em que estão inseridos como fator determinante do comportamento são algumas das teses defendidas pelo autor ao lado de fortes denúncias sociais. O protagonista do romance é o próprio cortiço, onde se acotovelavam lavadeiras, trabalhadores de pedreira, malandros e viúvas pobres.
ResponderExcluir“... Rita havia parado em meio do pátio.
... Por onde andara aquele diabo, que não aparecia para mais de três meses?
_ Ora, nem me fales, coração! Sabe? Pagode de roça! Que hei de fazer? É a minha cabeça velha!...
_ Mas onde estivesse tu enterrada tanto tempo, criatura?
_ Em Jacarepaguá.
_ Com quem?
_ Com o Firmo...
_ Oh ainda dura isso?
_ Cala a boca! A coisa agora é séria!
_ Qual! Quem mesmo? Tu? passa fora!
_ Paixões de Rita! Exclamou o bruno com uma risada. Uma por ano! Não contando as miúdas!
_ Não! Isso é que não! Quando estou com um homem não olho para outro!
Leocádia, que era perdida pela mulata, saltara-lhe ao pescoço ao primeiro encontro, e agora, defronte ela, com as mãos nas cadeiras, os olhos úmidos de emoção, rindo, sem se fartar de vê-la, fazia-lhe perguntas sobre perguntas:
_ Mas por que não te metes tu logo por uma vez como Firmo? Por que não te casas com ele?
_ Casar? Livra! Para quê? Para arranjar cativeiro? Um marido é pior que diabo; pensa logo que a gente é escrava! Nada! Qual! Deus te livre! Não há como viver cada um senhor e dono do que é seu!
E sacudiu todo corpo num movimento de desdém que lhe era peculiar.
_ Olha só que peste! Considerou Augusta, rindo, muito mole, na sua honestidade preguiçosa.
Esta também achava infinita graça na Rita Baiana e seria capaz de levar um dia inteiro a vê-la dançar o chorado...
(Escolhi essa parte da obra pois considero que representa bem o caráter de uma mulher forte e determinada, que embora não seja promiscua como a consideram, tem um pensamento de não casar para não prender-se ao marido, nem ser submissa, mas em ter seu amor por perto sem maiores compromissos).
Pag. 64/65.
Bibliografia: AZEVEDO, Aluísio, O Cortiço, texto integral L&PM POCKET.
Adelita Vimes Rodrigues
Realismo
ResponderExcluirO Realismo brasileiro é completamente diferente do europeu. A obra de seu principal autor, Machado de Assis, escapa de qualquer tentativa de classificação esquemática.
Na fase madura, Machado produz uma literatura essencialmente problematizadora. Com minuciosa investigação psicológica, ele indaga a existência humana. Ele ainda substitui o determinismo biológico por acentuado pessimismo existencialista e discute temas como a relatividade da loucura e a exploração do homem pelo próprio homem.
A intertextualidade e a metalinguagem marcam o estilo de Machado. O uso da linguagem poética, do jogo proposital de ambigüidades, da recuperação de lugares comuns e do microrrealismo psicológico também são características fundamentais da obra machadiana. Dom Casmurro, Esaú e Jacó e Memorial de Aires são alguns romances do autor.
Livros e flores
Teus olhos são meus livros.
Que livro há aí melhor,
Em que melhor se leia
A página do amor?
Flores me são teus lábios.
Onde há mais bela flor,
Em que melhor se beba
O bálsamo do amor?
Machado de Assis
Naturalismo
O principal autor naturalista no Brasil é Aluísio Azevedo. O determinismo social predomina em sua obra, construída através de observação rigorosa do mundo físico e da zoomorfização das personagens. Aluísio é autor de O mulato, Casa de pensão e O cortiço, obras com acentuado caráter investigativo e cuidadosa análise de comportamentos sociais.A riqueza literária do realismo-naturalismo no Brasil não se restringe à prosa de ficção.
O mundo natural encarna as pressões anímicas .E na poesia ecoam o tumulto do mar ea placidez do lago,o fragor da tempestade eo silêncio do acaso,o ímpeto do vento e a fixidez do céu,o terror do abismo e a seneridade do monte.
Poema pobre amor (Aulízio de Azevedo)
Calcula, minha amiga, que tortura!
Amo-te muito e muito, e, todavia,
preferira morrer a ver-te um dia
merecer o labéu de esposa impura!
Que te não enterneça esta loucura,
que te não mova nunca esta agonia,
que eu muito sofra porque és casta e pura,
que, se o não fôras, quanto eu sofreria!
Ah! Quanto eu sofreria se alegrasses
com teus beijos de amor, meus lábios tristes,
com teus beijos de amor, as minhas faces!
Persiste na moral em que persistes.
Ah! Quanto eu sofreria se pecasses,
mas quanto sofro mais porque resistes!
http://valdineir.wordpress.com/2007/03/27/poesia-pobre-amor-aluizio-de-azevedo/
Internet (livros)
ROSELEINE DE LIMA SOUZA
Realismo
ResponderExcluirA primeira publicação da obra O ateneu de Raul Pompéia ocorreu em 1888 e esse fragmento foi retirado do livro Pompéia, Raul. O Ateneu, cap. XII.
"Falavam do incendiário. Imóvel! Contavam que não se achava a senhora. Imóvel! A própria senhora com quem ele contava para o jardim de crianças! Dor veneranda! Indiferença suprema dos sofrimentos excepcionais! Majestade inerte do cedro fulminado! Ele pertencia ao monopólio da mágoa. O Ateneu devastado! O seu trabalho perdido, a conquista inapreciável de seus esforços!... Em paz!... Não era um homem aquilo; era um de profundas." Raul Pompéia
Catiusce Voigt
Naturalismo
ResponderExcluir“dócil, afável, inteligente... O que a tornava superior e lhe dava a possibilidade de triunfo era a arte de acomodar-se, às circunstâncias do momento e a toda casta de espíritos, arte preciosa que faz hábeis os homens e estimáveis as mulheres. Helena praticava de livros ou de alfinetes, de bailes ou de arranjos de casa, com igual interesse e gosto, frívola com os frívolos, grave com os que eram, atenciosa e ouvida sem entono nem vulgaridade. Havia nela a jovialidade de menina e a compostura da mulher feita, um acordo de virtudes domésticas e maneiras elegantes”. Machado de Assis
Trecho retirado de Assis, Machado de. Helena in obra completa. RJ, editora José Aguilar Ltda., 1962, Vol. 1, pág. 284, sendo que sua primeira obra Helena foi publicada em 1876.
Catiusce Voigt
REALISMO
ResponderExcluirDom Casmurro (1899). Machado de Assis: Narrado na 1ª pessoa. Possui atividade crítica, objetividade e contemporaneidade, características, voltado para a análise (ou exposição) psicológica e que critica ironicamente a sociedade carioca.
“Vivo só, com um criado. A casa em que moro é própria...O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência. Pois, senhor, não consegui recompor o que foi nem o que fui... Uma certidão que me desse vinte anos de idade poderia enganar os estranhos, como todos os documentos falsos, mas não a mim. Os amigos que me restam são de data recente; todos os antigos foram estudar a geologia dos campos-santos.[...]
Em verdade, pouco apareço e menos falo. Distrações raras. O mais do tempo é gasto em hortar, jardinar e ler; como bem e não durmo mal.Ora, como tudo cansa, esta monotonia acabou por exaurir-me também. Quis variar, e lembrou-me escrever um livro”
NATURALISMO
O Cortiço (1890). Aluisio de Azevedo - O romance difunde as teses naturalistas, que explicam o comportamento dos personagens com base na influência do meio, da raça e do momento histórico.
“Odiavam-se. Cada qual sentia pelo outro um profundo desprezo, que pouco a pouco se foi transformando em repugnância completa...
Uma bela noite, porém, o Miranda, que era homem de sangue esperto e orçava então pelos seus trinta e cinco anos; sentiu-se em insuportável estado de lubricidade. Era
tarde já e não havia em casa alguma criada que lhe pudesse valer. Lembrou-se da mulher, mas repeliu logo esta idéia com escrupulosa repugnância. Continuava a odiá-la. Consumado o delito, o honrado negociante sentiu-se tolhido de vergonha e arrependimento. Não teve ânimo de dar palavra, e retirou-se tristonho e murcho para o seu quarto de desquitado...”
Parte 1-Clarisse
PARNASIANISMO
ResponderExcluirOlavo Bilac, Rio de Janeiro, 26 de Dezembro de 1865 – 28 de Dezembro de 1918. Jornalista e poeta. Membro fundador da Academia Brasileira de Letras. Escreveu a letra do Hino à Bandeira. Em 1907, foi eleito”Príncipe dos poetas brasileiros”, pela revista
Fon-fon. Apoio dado ao projeto de lei para instituir a obrigatoriedade do serviço militar no Brasil. É considerado o mais importante de nossos poetas parnasianos.
Língua Portuguesa - Soneto constituído de versos decassílabos heroicos (acento tônico ocorrente nas 6ª e 10ª sílabas poéticas), com rimas opostas, interpoladas ou intercaladas. Tema já tratado por Camões. Um soneto contado em 14 versos, distribuídos em dois quartetos e dois tercetos, seguindo as normas clássicas da pontuação e da rima.
Última flor do Lácio, inculta e bela
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Outro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...
Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: “meu filho!”
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
SIMBOLISMO –
Flores do Mal (1857), Charles Baudelaire, obra precursora do movimento. Tendência literária da poesia que surgiu na França, no final do século XIX, como oposição ao Realismo, ao Naturalismo e ao Positivismo. Principais características – subjetivismo, musicalidade e trancendentarismo.
Alphonsus de Guimarães , Mariana, 24 de julho de1870 – 15 de julho de1921). Seus veros tratavam de amor, morte e religiosidade. Obras: Septenário das dores de Nossa Senhora (1899); Câmara Ardente (l899); Dona Mística (1899); Kyriale (1902); Mendigos (1920).
“O céu é do todo trevas: o vento uiva
Do relâmpago a cabeleira ruiva.
Vem açoitar o rosto meu.
E a catedral ebúnea do meu sonho
Afunda-se no caos do céu medonho
Como um astro que já morreu”.
BIBLIOGRAFIA
Assis, Machado de. Dom Casmurro. In: Obra completa. Moderna, São Paulo, 1994
AZEVEDO, Aluisio.O cortiço. São Paulo: Scipione, 1995.
BILAC, Olavo. Poesia, Livraria Francisco Alves,1964, pág. 262.
pt.Wikipedia.org./wiki
Parte 2-Clarisse
Mas, e a bertoleza?...
ResponderExcluirSim! Era preciso acabar com ela! Despachá-la! Sumi-la por uma vez!
Deu meia- noite no relógio do armazém. João Romão tomou uma vela e desceu aos fundos da casa, onde Bertoleza dormia. Aproximou-se dela, pé ante pé, como um criminoso que leva uma ideia homicida.
A crioula estava imóvel sobre o enxergão, deitada de lado, com a cara escondida no braço direito, que ela dobrava por debaixo da cabeça. Aprecia-lhe uma parte do corpo nua.
João Romão contemplou-a por algum tempo, com asno.
E era aquilo,aquela miserável preta que ali dormia indiferentemente, o grande estorvo da sua aventura!...Parecia impossível!
- E se ela morresse?...
Esta frase, que ele tivera, quando pensou pela primeira vez naquele obstáculo à sua felicidade, tornava-lhe agora ao espírito, porém já amadurecida e transformada nesta outra:
- e se ela morresse?...
Referência:
O cortiço/ Aluísio Azevedo. – 3.ed. – São Paulo: Ciranda Cultural, 2010. – (Clássicos da literatura)
Caroline Münchow
Mas, e a bertoleza?...
ResponderExcluirSim! Era preciso acabar com ela! Despachá-la! Sumi-la por uma vez!
Deu meia- noite no relógio do armazém. João Romão tomou uma vela e desceu aos fundos da casa, onde Bertoleza dormia. Aproximou-se dela, pé ante pé, como um criminoso que leva uma ideia homicida.
A crioula estava imóvel sobre o enxergão, deitada de lado, com a cara escondida no braço direito, que ela dobrava por debaixo da cabeça. Aprecia-lhe uma parte do corpo nua.
João Romão contemplou-a por algum tempo, com asno.
E era aquilo,aquela miserável preta que ali dormia indiferentemente, o grande estorvo da sua aventura!...Parecia impossível!
- E se ela morresse?...
Esta frase, que ele tivera, quando pensou pela primeira vez naquele obstáculo à sua felicidade, tornava-lhe agora ao espírito, porém já amadurecida e transformada nesta outra:
- e se ela morresse?...
Referência:
O cortiço/ Aluísio Azevedo. – 3.ed. – São Paulo: Ciranda Cultural, 2010. – (Clássicos da literatura) página 140.
Caroline Münchow
Trecho de “ Casa de Pensão” de Aluísio de Azevedo
ResponderExcluir"... esses pequenos episódios de infância, tão insignificantes na aparência, decretaram a diluição que devia tomar o caráter de Amâncio. Desde logo habituou-se a fazer uma falsa ideia de seus semelhantes; julgou os homens por seu pai, seu professor e seus condiscípulos. - E abominou-os. Principiou a aborrecê-los secretamente, por uma fatalidade do ressentimento, principiou a desconfiar de todos, a prevenir-se contra tudo, a disfarçar, a fingir que era o que exigiam brutalmente que ele fosse. "
AZEVEDO,Aluísio de.Casa de Pensão.1884
Referências:
http://www.algosobre.com.br/resumos-literarios/casa-de-pensao.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Casa_de_Pens%C3%A3o
ANGÉLICA NORONHA DE SÁ
Naturalismo
ResponderExcluirTrecho do livro: O mulato
Luís Dias era empregado de Manuel Pescada, que por instigação do cônego acabou por assassinar Raimundo. (...) era um tipo fechado como um ovo, um ovo choco que mal denuncia na casca a podridão interior. Todavia, nas cores biliosas do rosto, no desprezo do próprio corpo, na taciturnidade paciente daquela exagerada economia, adivinhava-se-lhe uma ideia fixa, um alvo para o qual caminhava o acrobata, sem olhar dos lados, preocupado, nem que se equilibrasse sobre uma corda tesa. Não desdenhava qualquer meio para chegar mais depressa aos fins; aceitava, sem examinar, qualquer caminho desde que lhe parecesse mais curto; tudo servia, tudo era bom, contanto que o levasse mais rapidamente ao ponto desejado. Lama ou brasa - havia de passar por cima; havia de chegar ao alvo - enriquecer. Quanto à figura, repugnante era magro e macilento, um tanto baixo um tanto curvado, pouca barba, testa curta e olhos fundos. O uso constante dos chinelos de trança fizera-lhe os pés monstruosos e chatos quando ele andava, lançava-os desairosamente para os lados, como o movimento dos palmípedes nadando. Aborrecia-o o charuto, o passeio, o teatro e as reuniões em que fosse necessário despender alguma coisa; quando estava perto da gente sentia-se logo um cheiro azedo de roupas sujas.
Aluísio Azevedo
Referencias:
http://revisaovirtual.com/site/Artigos_79_realismo.htm
http://palavrasintrepidas.blogspot.com.br/2012/04/analise-de-o-mulato_01.html
[Sirlei Schumacher]
Realismo naturalismo
ResponderExcluirMEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS
Machado de Assis
Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em
primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento,
duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente
um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito
ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no intróito,
mas no cabo; diferença radical entre este livro e o Pentateuco.
Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi.
Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao
cemitério por onze amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce que chovia — peneirava
— uma chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e tão triste, que levou um daqueles fiéis da última hora a intercalar
esta engenhosa idéia no discurso que proferiu à beira de minha cova: — “Vós, que o conhecestes, meus senhores, vós podeisdizer comigo que a natureza parece estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que tem honrado a
humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo
isso é a dor crua e má que lhe rói à natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre
finado.”
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2038
ELIANI LUDWIG
“A vida pela vida” - Naturalismo
ResponderExcluirTrecho do Romance "O cortiço"
João Romão não saía nunca a passeio, nem ia à missa aos domingos; tudo que rendia a sua venda e mais a quitanda seguia direitinho para a caixa econômica e daí então para o banco.
Tanto assim que, um ano depois da aquisição da crioula, indo em hasta pública algumas braças de terra situadas ao fundo da taverna, arrematou-as logo e tratou, sem perda de tempo, de construir três casinhas de porta e janela.
Referência: O Cortiço/Aluísio Azevedo-1ª ed.-São Paulo: Círculo do Livro S.A- Edição Integral ( Grandes da Literatura Brasileira )- página 10.
(Thamires Marchezini)
correção: "A vida sem mistificação" -Naturalismo.
ResponderExcluirReferência: O Cortiço/Aluísio Azevedo-1ª ed.-São Paulo: Círculo do Livro S.A- Edição Integral ( Grandes da Literatura Brasileira )- página 10.
(Thamires Marchezini)