domingo, 7 de setembro de 2014

CAPÍTULO 4 - Literatura regional e cânone

Fernanda de Mello Alves
Josaphat Franca Fonseca Neto
Maria Beatriz Lima Tropia

Um comentário:

  1. Em Literatura Regional e Cânone, Scheichl toma como base de análise a produção literária de alguns escritores alemães, austríacos e tiroleses para discorrer sobre alguns de seus aspectos. O autor menciona a existência de uma literatura pluricêntrica alemã, ressaltando que “as autoras e autores da língua alemã praticamente nunca se orientaram por um único centro literário...” (p.109) e, a partir disso, questiona o quão difícil é determinar o que se considera literatura regional. Esta pode ser, segundo Scheichl, a escrita de autores que usam linguagem, temas e cenários próprios de suas regiões ou aquela produção que se projeta em oposição à literatura urbana e à nacional. O autor argumenta que, ainda que um escritor tratasse de temas alheios ao seu entorno, o seu ambiente de socialização atuaria como uma impressão digital, deixando sempre vestígios na sua produção literária.
    O pertencimento de uma obra ao espaço canônico regional ou suprarregional da literatura está, conforme considera Scheichl, diretamente relacionado às tendências de recepção. Na visão do autor, essa recepção tem a ver com o fato de uma determinada obra conseguir ou não “romper [...] as fronteiras da região” (p. 117) mesmo que apresente temas próprios do local onde surgiu; se ela é aceita nessas condições, pertence ao cânone nacional, se não, é regional. Caso a obra deixe de ser cânone nacional, mas continue sendo cânone regional, estaremos diante do que o autor denomina cânone alternante. Scheichl ainda ressalta, em seu artigo, que é possível uma obra canônica voltar a ser regional caso o interesse do público leitor diminua; este seria o processo de descanonização da obra. Nesse sentido, para que uma obra seja considerada canônica, isto é, referência num determinado período, estilo ou cultura, isso não depende “apenas da qualidade” (p. 117) e da editora da obra, mas também dos contatos que o autor tenha no mundo literário e teatral (estes últimos no caso do Tirol, citado no artigo).
    Quanto à questão da recepção, este parece ser o fator preponderante no enquadramento dos referidos autores. O uso da linguagem dialetal nos diálogos, os cenários locais e a apropriação de temas que produzem embates ideológicos foram elementos importantes na apropriação de suas obras, ora por públicos locais, identificados com valores caros à região – no caso do Tirol, o catolicismo secular –, ora por um público mais amplo, “moderno”, que tem, sobretudo, uma visão de mundo avessa ao conservadorismo clerical tirolês. Por vezes, é importante ressaltar, a questão formal (o uso do dialeto e de cenários locais) suplanta a questão ideológica na medida em que a estrutura política local se apropria desses elementos formais para, aproveitando-se do sucesso momentâneo da obra, ressaltar os valores locais, ainda que estes não estejam representados na referida obra, ou mesmo que sejam ali criticados.

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